terça-feira, 14 de abril de 2009

Oi Pessoal!


Eu queria agradecer os comentários, os emails e todas as mensagens que estou recebendo! =) É muito, muito bom "ouvir"  o que vocês tem a me dizer!

Ah! Eu demorei pra postar mais alguns capítulos, mas estão ai! Aproveitem...

domingo, 12 de abril de 2009

CAPÍTULO VIII - O ERRO

Alguns dias depois eu acordei uma barulheira imensa e com alguns trancos, e imaginei que devíamos estar aportando. E pensei que durante fuga de Will, naquela ilha onde nos encontramos, ele não pegou nenhuma gota de água potável, e logo entendi porque. A ilha que estávamos agora tinha muito mais do que água, era uma ilha habitada quase inteiramente por traficantes de rum, e logo entendi que na verdade, aportamos por causa do rum e de vinho e não realmente por causada água.

- Água? - eu perguntei quando Will subiu novamente ao navio carregando algumas garrafas de rum.

- Essa é a água dos marujos! - ele respondeu sorrindo. - Tenho boas noticias!

- Sério? Quais? - perguntei interessada quando ele ia descendo a escada para o porão, fui atrás dele.

- Bom, Fokke foi visto voltando para o estreito, portanto, tudo indica que não o encontraremos tão cedo! - ele disse. Eu não sabia o que tinha de bom nesta noticia, afinal de contas, íamos enfrentá-lo da mesma maneira.

- Que bom! - menti eu. - E as outras noticias?

- Mais uma só! - ele disse tomando um gole de uma garrafa de rum - esse é do bom! - disse ele me oferecendo e descendo pro porão.

- Não! - respondi eu o seguindo. - Qual a noticia?

- Seu noivo, está bem! Muito bem! - ele disse sorrindo. Eu me sentei na escada.

- O que foi? Onde ele está? - eu perguntei preocupada.

- Ele está em Tortuga! Pelo menos estava... - disse Will. E não vou dizer que já esperava isso, apesar de já esperar, mas é claro que não gostaria de ter ouvido aquilo. - E ele se casou...

- Que?! - Ah! Essa sim me pegou de surpresa, como um gancho de direita, me derrubando de boca no chão. Casado?! Quer dizer então que ele pedia em casamento todas aquelas que o tratassem com o mínimo de dignidade possível?!

- Calma! - disse Will me oferecendo novamente o rum. - Não é um casamento muito certo, um casamento em Tortuga, feito num bar, pode ser anulado pelo próprio dono do bar! E ouvi dizer que Carlinhos estava muito bêbado!

- Claro que ele estava bêbado! - eu disse. Apesar de não ter certeza, era o que eu realmente esperava. - E ele já desfez essa besteira?? - eu perguntei pegando a garrafa de rum e tomando um senhor de um gole.

- Então... - começou Will tentando não rir. - Ele casou com a filha do dono do bar! - ele disse, e eu cuspi todo o rum.

- Não faz isso! - exclamou Will olhando para as gotas de rum no chão.

- E agora? - eu perguntei engolindo um restinho de rum que ficou na minha boca, antes tivesse cuspido também. Will colocou as garrafas junto com muitas outras que já estavam no navio.

- Bom... agora ele consegue anular o casamento se a noiva concordar ou se ele matar ela ou o pai! - ele disse olhando para mim.

- Ótimo! - eu disse - Que mate logo os dois de uma vez!

- Mas ai ele é preso! - disse Will e eu pensei por alguns instantes.

- Antes noiva de um assassino do que ser trocada por a filha do dono de um bar fedorento! - eu disse e Will riu. Ele começou a voltar para o convés passando por mim.

- Bom... você pode assumir o leme? - perguntou ele me oferecendo a mão para me levantar. Eu aceitei.

Fiquei no leme quase o dia todo. Eu adorava aquela sensação! Me fazia sentir mais perto do meu pai. Ainda me lembro dele me dando as coordenadas. Will subiu no final da tarde, sem camisa e todo suado e trazia uma garrafa de vinho. Ele veio um pouco antes do que eu havia previsto.

- Seu pai ficaria orgulhoso de você! - ele disse pegando no leme atrás de mim novamente. Sua mão pegou por cima da minha, junto com a garrafa de vinho. Eu sorri e tive a impressão de que ele sabia exatamente o que eu estava pensando! Não! Não por ele ficar tentando me provocar e fingir que era só uma casualidade! Mas pelo meu pai!

- E ele está! - eu disse. Às vezes achava que podia sentir meu pai, como se ele conversasse comigo, e naquele momento sentia mesmo como se ele estivesse orgulhoso. Will segurou minha mão com mais força e chegou mais perto.

- Willian Tach! - eu censurei tentando manter distância. Ele riu.

- Quer um gole? - perguntou ele tirando a rolha da garrafa de vinho com a boca.

- Não! - eu respondi sorrindo e soltando o leme e indo ao lado dele, me aproveitando do momento que ele soltou o braço do leme pra beber um gole do vinho.

- Tá com medo de mim? - ele perguntou sorrindo.

- Claro que não! - eu respondi sinceramente. E era claro que eu não tinha medo dele, mas tinha medo de mim mesma.

- Então qual o problema? - ele me perguntou.

- Nenhum! - eu disse indo me sentar na escada que descia para o convés.

- Você está fugindo de mim, todos esses dias... – não era uma pergunta. Eu olhei para meus pés envergonhada. Eu não queria que ele pensasse que eu achava ele algum tipo de tarado, descontrolado, ou coisa assim! Acontece que eu sabia exatamente o que acontecia quando eu estava do lado dele. - Carlinhos? - ele me perguntou, mas não respondi. Claro que de certa forma o Carlinhos era o problema, eu não podia fazer isso com ele. Ou podia?!

- Ele é seu irmão Will! - eu disse sorrindo.

- Meio irmão! - ele corrigiu.

- Ok! Meio irmão, mesmo assim... - eu disse. Ele olhava para o mar, como se nada mais o importasse. - Quando você resolveu ser pirata? - eu perguntei mudando o assunto. Uma das coisas que mais me encantavam no Will era sua paixão pelo mar.

- Desde que eu nasci! - ele disse sorrindo e tomando um gole de vinho. - Mas me tornei mesmo um pirata, quando eu tinha uns 15 anos. Meu pai ainda era vivo, ele ficou tão orgulhoso.

- E como foi?

- Ah! - começou ele sorrindo ao se lembrar, e eu me derretendo por aquele sorriso. - Eu já era bom na época, meu pai já havia me ensinado muito e eu já estava acostumado a navegar. Mas no começo eu era só um marinheiro, que esfregava o convés... Quando fiz 19 anos resolvi que era hora de ter meu próprio navio. Foi na época que meu pai morreu. Ai ainda mais que eu quis ir vingar morte dele...

- E como ele morreu? Carlinhos me contou que foi uma tocaia, alguma coisa assim...- eu disse interessada quando Will travou o leme e veio se sentar ao meu lado.

- É! Armaram uma tremenda arapuca pra pegá-lo, muitos marujos dele o traíram... - ele falou tomando mais um gole do vinho.

- Por que você não trabalhou para seu pai? - eu perguntei curiosa.

- Mas eu trabalhei! - ele disse sorrindo. - por pouco tempo! O problema é que havia um certo protecionismo, claro, eu não precisava seguir as mesmas regras dos outros marujos, e ai acabavam cobrando do meu pai! Então decidi ir pro Bulcaneiro...

- Entendi! - eu disse sorrindo.

- Então logo depois que mataram meu pai, eu roubei um navio, velho e caindo aos pedaços, e eu e Carlinhos fomos atrás no antigo barco do papai, este aqui! - ele disse sorrindo.

- Eu não sabia que o Senhor dos Ventos era do seu pai!

- Era! Nós lutamos contra muitos homens, nós dois e um barco velho! - disse ele rindo. - Mas conseguimos recuperar o barco... Mas na hora H, Carlinhos deu pra trás, falou que não podia ser um pirata como o papai...

- Por que?

- Bom, o sonho dele era ser um cavaleiro real! - ele disse sorrindo pra mim. - E ser pirata ia totalmente contra o sonho dele... Brigamos muito no inicio, por que ele achava que eu devia fazer o mesmo! - ele disse.  Eu me diverti com a idéia de ver Willlian Tach vestindo a farda do exercito ou todo arrumadinho conversando com o Rei.

- Não combina com você! - eu disse sorrindo, e ele sorriu, aquele sorriso descontraído e sexy que só ele tinha.

- Pois é! Mas Carlinhos nunca achou a vida de pirata muito digna! Ele diz que eu ainda vou acabar como papai...

- Mas ele navega bem e...

- Sangue de pirata! - interrompeu Will me olhando nos olhos. - A diferença é que a mãe de Carlinhos morreu logo que ele nasceu, e o ferreiro, que era muito amigo do papai pegou ele para criar, mas ele não queria que Carlinhos seguisse mesmo os passos do papai, eu meu pai concordou! Ele realmente achava que Carlinhos podia ter um futuro melhor que o dele...

- Mas e você?

- Eu sempre fui muito parecido com meu pai! Claro que, por alguns anos ele tentou afastar a idéia de ser pirata da minha cabeça, mas ele percebeu que era impossível! A minha mãe sempre me incentivou também....

- Sua mãe?! – eu perguntei sorrindo. Eu não podia acreditar que uma mãe realmente quisesse este tipo de vida pra um filho.

- Ah! Minha mãe era doida pelo meu pai! - ele disse sorrindo - ela me vestia como ele e me usava, para que quando papai viesse me ver ele tivesse vontade de ficar! - ele disse sorrindo.

- Mas isso nunca aconteceu? - eu perguntei e Will fez que não.

- Muitas vezes ele ficava mais tempo do que outras vezes, mas no fim ele sempre ia embora! E eu achava que ele estava certo...

- Certo? - eu perguntei confusa. Não ia gostar que meu pai tivesse feito isso. Sempre quando ele ia fazer longas viagens, eu implorava pra ele me levar junto.

- Claro, existe coisa melhor do que o mar e a liberdade? - ele me perguntou sorrindo.

- Existe! - eu disse sem pensar e ele me olhou com um sorriso de menino levado. Eu devo ter ficado vermelha.

- Então me mostre, porque eu não conheço! - nos ficamos nos olhando durante alguns segundos. Will veio se aproximando. Uma parte de mim me dizia para deixar que ele me beijasse, mas outra pensava em Carlinhos. Will vinha se aproximando e olhando nos meus olhos, enquanto eu tentava me decidir. Eu lutava contra minha vontade de mandar Carlinhos as FAVAS, mas eu ainda amava ele! E do outro lado estava Willian Tach, o pirata mais lindo que existia tava me dando maior mole! Se eu pudesse teria matado Tiago Tach, antes que ele fizesse tantos filhos! E ele era um pirata! Devia ter filhos lindos espalhados pelo mundo inteiro. Será que todos os filhos de Tach tinham esse efeito em mim?

Will estava tão próximo agora que eu sentia sua respiração em meus lábios. Ele olhou fundo nos meus olhos e eu me afastei, tentando não me deixar lavar. Ele sorriu, aquele mesmo sorriso de tirar o fôlego e se aproximou de novo com aqueles olhos negros, aquele cavanhaque, e aquele rabo de cavalo... Ele passou a mão no meu cabelo e me beijou, mas no momento em que o beijo ia começar a engrenar mesmo, eu o empurrei e corri para a cabine. Era errado, muito errado! Eu tentava me convencer, ao mesmo tempo que uma parte de mim queimava de desejo.

Ele veio atrás de mim, e fiz tudo para não olhar pra ele, por medo do que eu poderia acontecer se eu olhasse.

- Tá...desculpa! - disse ele entrando pela porta da cabine. Eu não disse nada, apenas caminhei lentamente e me sentei na cama, meu lado Will, estava no céu, mas meu lado Carlinhos tentava me fazer sentir culpada. Will me seguiu e ficou parado em pé me encarando.

- Tudo bem! - eu disse sem perceber. Ele se ajoelhou na minha frente, me olhando daquele jeito que me deixa totalmente vulnerável (e que jeito que ele me olha que não me deixa assim?) - Mas o mar e a liberdade?- eu perguntei sorrindo. Ele sorriu.

- De verdade, ainda não sei de nada melhor! - ele disse se aproximando.

- Nada?! –eu perguntei o encarando sorrindo. Ele mordeu seu lábio inferior parecendo pensativo.

- Ah! Tem uma coisa! Eu experimentei há muito tempo atrás! Tanto tempo que nem me lembro direito... – ele começou com seu olhar malicioso, eu sorri. – Mas faz tanto tempo que sinceramente não sei se era melhor...

- Mesmo?! – eu perguntei me fazendo de interessada. Ele sorriu e assentiu. – Eu posso te ajudar?! – eu perguntei me fazendo de desentendida.

- Claro! – ele respondeu ainda sorrindo – Só você pode me ajudar! – ele respondeu me olhando nos olhos. Eu ri. Will era impossível! – Você sabe do que eu to falando, não sabe?! – ele perguntou no meu ouvido me fazendo arrepiar.

- Acho que sei! – eu disse tentando resistir inutilmente a ele.

- E você vai me ajudar com isso?! – ele perguntou passeando com seus lábios no meu pescoço.

- Feche os olhos! – eu pedi ignorando sua pergunta. Ele me encarou desconfiado por alguns segundos e então fechou os olhos. Eu me aproximei, fazendo meus lábios tocarem levemente nos lábios dele. Will sorriu e procurou pelos meus lábios sorrindo ainda de olhos fechados. E eu aproveitei pra colocar um pedaço de chocolate na sua boca. Ele abriu os olhos e me encarou com um sorriso desaprovador.

- Engraçadinha! - ele disse com a boca cheia de chocolate. Ele engoliu e pegou mais um pedaço no criado mudo que ficava ao lado da cama.

- Bom?! – eu perguntei sorrindo. Ele assentiu distraído, e de repente sorriu.

- Eu sabia que você tava armando alguma! – ele disse pegando mais um pedaço de chocolate. Eu ri desviando do seu olhar, mas ele puxou meu rosto para que nossos olhos se encontrassem novamente. Eu tentei me concentrar. Ele mordeu mais um pedaço de chocolate, ainda me encarando.

- Eu senti sua falta! – ele disse de um jeito displicente. Como se estivéssemos conversando sobre o tempo.

- Eu...me – eu comecei, sem saber o que dizer.

- Só estou dizendo... – ele disse com aquele sorriso. – Você não precisa se sentir da mesma forma! – ele continuou naquele mesmo tom. Eu abri a boca e as palavras demoraram a sair. Eu desviei meu olhar novamente.

- Eu senti sua falta também! – eu disse brincando com a colcha da cama. Ele ergueu meu rosto e sorriu novamente.

- E por que você resiste?! – ele perguntou parecendo não prestar atenção em mim. Eu dei com os ombros. Os olhos dele voltaram a me encarar. Ele pegou mais um pedaço de chocolate e me encarou curioso, e sorriu de repente.  – Você não consegue resistir, esse é o problema, não é?! – ele perguntou.

- É claro que eu consigo! – eu menti. Ele riu da minha expressão.

- Eu entendi! Você não tem medo de mim! Você tem medo de você mesma! – ele disse, seus olhos estavam brilhantes, como de uma criança que acaba de ganhar um presente de Natal. – Acertei?!

- Não! É claro que eu consigo resistir! – eu insisti – Você é bonito e o tempo que passamos juntos foi inesquecível, mas... eu tenho controle sobre meus atos! – eu disse tentando convencer a mim mesma disso!

- Claro! – exclamou Will pegando mais um pedaço de chocolate. Ele esperou alguns segundos me olhando nos olhos e mordeu o chocolate me encarando sério. Ele diminuiu a distancia que existia entre nós, sem perder o contato com meus olhos. Ele aproximou seu rosto lentamente. Quase por instinto meus olhos fecharam quando sua respiração alcançou meus lábios. Eu ouvi ele se afastar e sorrir.

- Eu sabia! – exclamou ele ainda rindo. Eu revirei os olhos. Como eu podia ser tão fraca assim?!

- Não vale! Você me pegou desprevenida!  - eu exclamei. Ele ainda segurava um pedaço de chocolate que agora derretia entre seus dedos.

- É ai que tá a graça! – ele respondeu me encarando com uma expressão divertida. Eu balancei a cabeça em desacordo. – Tá bom! Eu te dou uma chance! Se prepara então! – ele disse sorrindo. Eu respirei fundo e fechei os olhos.

- Pronta! – eu disse abrindo os olhos e encarando seus olhos negros. Ele colocou aquele resto de chocolate derretido na boca e se aproximou.

Eu não me movi, mas continuei com meus olhos fixos nos olhos dele. Will sorriu, eu sabia que ele não ia se dar por vencido tão fácil. Seu cavanhaque raspou no meu queixo, eu senti os pelos do meu braço arrepiarem, mas continuei firme. Ele passeou com seus lábios pela pele do meu rosto. Meus olhos estavam quase se fechando quando eu lembrei que tinha que resistir!

- Hum! Você tá indo bem! – ele disse sem se afastar, pegando o ultimo pedaço de chocolate que havia. Seu rosto estava tão próximo do meu que eu quase pude sentir o gosto do chocolate quando ele mordeu um pedaço. – Pronta pra segunda fase?! – ele perguntou.

- Como assim?! – eu perguntei confusa.

- Claro! Essa foi só a primeira fase! A mais fácil! – ele disse com uma piscadela. Eu não respondi. Ele continuou me encarando, e como a resposta não veio, ele se aproximou um pouco mais. Eu recuei num reflexo involuntário. Ele enfiou o resto do chocolate na boca e se aproximou com aquele sorriso. Eu repeti várias vezes mentalmente que precisava acabar com isso! Eu não precisava provar nada pra ele. Mas Will quebrou minha concentração brincando com a ponta de sua língua, suja de chocolate nos meus lábios. Eu estremeci, e ele sorriu, e continuou.

 Não consegui resisti e nos beijamos Chocolate e um homem lindo! Quem resiste?! Tiago Tach sabia como fazer filhos, e como sabia!!

Algum tempo depois eu estava deitada do peitoral dele, passando a mão a vontade por ali. E ele deitado com seus braços fortes embaixo da cabeça.

- Quase acreditei que você só ia me deixar com o chocolate essa noite! - ele disse sorrindo e olhando pra mim.

- Eu ia! - eu respondi sorrindo.

- Você ia ter coragem? - ele perguntou se virando e deitando quase em cima de mim, e me olhando com aqueles olhos escuros.

- Não sei... - eu menti!


CAPÍTULO VII - O RAPTO

No dia seguinte, acordamos com um alvoroço vindo lá de fora. Carlinhos se levantou correndo e foi até a varanda.

- Droga! – exclamou ele apressado.

- O que foi? - eu perguntei sonolenta.

- Will está tripulando o Senhor dos Ventos pra voltar para o mar! Não podemos deixar ele ir embora! - disse ele vestindo suas calças.

- E por que? Não foi ele quem matou meu pai... - eu disse me sentando na cama. Carlinhos era lindo, até sendo desajeitado para vestir sua roupa.

- Do que você tá rindo? - ele perguntou sorrindo calçando suas botas e enfiando a camisa de qualquer jeito.

- Nada, você ai quase caindo por causa de uma calça. - eu disse. Ele sorriu sem graça e veio até mim de repente me dar um beijo.

- Vou pegar o Will, temos que levá-lo para esclarecer essa história com Jack! - disse Carlinhos saindo quase na mesma hora. E depois eu era a teimosa?!

Eu vesti o primeiro vestido que encontrei e fui atrás dele, mas quando cheguei no navio, eu já podia ouvir a discussão vinda da cabine. Quando eu entrei nenhum dos dois pareceu notar minha presença.

- Eu não vou! Já esclareci a história! - disse Will tentando se acalmar.

- Willian! É a única maneira de te perdoarem... - disse Carlinhos.

- Eu não preciso do perdão de ninguém! - disse Will - Sou um pirata, esqueceu? - perguntou ele prendendo seu cabelo. Eu caminhei lentamente até a grande janela de vidro no fundo da cabine. Nenhum dos dois parecia estar ciente da minha presença ainda. Eu ouvi o barulho da ancora sendo recolhida.

- Um pirata falido! - rebateu Carlinhos com raiva. Pegou pesado, eu pensei.

- Talvez, mas ainda sim sou o melhor pirata da região... - rebateu Will - vivo! - completou ele. Eu continuei olhando pela janela, daqui alguns minutos teríamos que voltar de bote para a praia. Eu abri a boca para falar, mas eles ainda não haviam me reparado ali.

- Will! Pode ser sua chance de receber o perdão real e quem sabe conseguir um trabalho de verdade! - disse Carlinhos.

- Eu não quero e não preciso de um trabalho de verdade! - disse Willian finalmente olhando para mim. - eu amo o mar, a liberdade... ser um pirata! – completou ele, e eu tinha certeza que precisaríamos de um barco para voltar para praia.

- Pense na recompensa que você receberia por ter resgatado o corpo do Rei! - disse Carlinhos. Eu juro que estava começando a fazer mímicas em relação a estarmos ficando cada vez mais longe da praia, mas Will olhou indignado para Carlinhos.

- Recompensa? Piratas não recebem recompensas! - disse Willian nervoso.

- Ah! Vocês roubam e afundam e caçam tesouros que não existem! - disse Carlinhos nervoso. Eu desisti de dizer qualquer coisa. Quando essa discussão terminasse, quem sabe estaríamos bem longe, e Carlinhos desistisse da idéia de voltar para o reino.

- Talvez não seja a maneira mais digna de se ganhar a vida, mas não troco minha liberdade por nada! - disse Willian. Eu suspirei, não adiantava tentar me intrometer. Eu continuei ali, parada olhando para o mar.

- Você está jogando uma chance e tanto fora! - disse Carlinhos desanimado. Eu podia ver a tristeza em seus olhos verdes no reflexo do vidro. Assim como eu podia ver Will balançando a cabeça com ódio. Seus olhos se cruzaram com os meus pelo reflexo do vidro e então ele estreitou os olhos e sorriu.

- Tudo bem, vou ganhar um dinheiro real, mas vai ser do meu jeito! - disse Will serio, eu me virei para olhar Will. No que ele estava pensando?! Ele me encarou sério, mas não disse nada. Apenas se aproximou alguns passos de mim.

- Como? - perguntou Carlinhos, tudo aconteceu muito de repente e a próxima coisa que reparei foi que Will me abraçava por trás e tinha uma adaga perto do meu pescoço. Eu abri a boca pra falar alguma coisa. Mas ele me interrompeu.

- Raptando a princesa! - disse Will me segurando. - 200 moedas de ouro por ela. – continuou ele enquanto eu pensava se deveria ou não me soltar, e se sim, o quanto eu devia machucar ele no meu plano de fuga.  

- 200?! - exclamou Carlinhos - É muita coisa! - completou ele, meu queixo caiu. Eu decidi que não sairia dali. Quem sabe se ele mesmo me salvasse! Mas dizer que 200 era muita coisa? 200 moedinhas valiam mais que sua noiva? Claro que meu irmão não gostaria disso, mas eu deveria valer muito mais do que 200 moedas pra ele!

- Então vou levá-la comigo! - disse Will, Carlinhos ficou me olhando! É claro que ele sabia que eu podia sair dali, mas por birra eu não ia. Ele balançou a cabeça como um sinal pra eu fazer alguma coisa, mas eu ignorei! E ignorei mesmo! 200 moedas muito?

Eu não sei quanto era isso, afinal, nunca tinha mexido com essas coisas, mas achei que eu fosse como uma obra de arte, de valor inestimável, mas se nem 200 moedinhas me pagavam, então eu ia com Will, e eu sabia que sua real intenção me seqüestrando era ir atrás de Fokke! Se Carlinhos quisesse evitar isso, ele teria que fazer Will me soltar. Afinal, EU era a donzela em perigo!

- Liv! - exclamou Carlinhos impaciente.

- Não tente nada princesa! - disse Will me apertando mais e me machucando. Definitivamente ele não sabia raptar alguém.

- Tá me machucando! - eu disse e ele relaxou um pouco.

Patético! Simplesmente patéticos! Um pirata que nem sabe prender um refém, e um noivo banana que espera que eu mesma me defenda, sendo que ele é o comandante do exercito do reino! Mas o pior, foi dizer que 200 moedas eram muito...

Will fez deu um sinal para seus homens que viessem buscar Carlinhos. É claro que ele também poderia ter fugido dos marujos, afinal, ele era capitão do exercito real, mas ele esperou algo de mim, e eu algo dele, e foi assim que nosso noivado acabou e que nós nos separamos. Meu irmão pagou as 200 moedas, eu me casei com um dos Alcantaras e vivemos infelizes para sempre!

FIM!

É claro que é brincadeira! Eu e Carlinhos nos separamos, mas isso na verdade foi só o começo.

Naquele dia, sem dizer uma só palavra Will me colocou no porão, em  uma cela que eu nem sabia que existia em seu navio. Claro que eu achei que dali a pouco ele voltaria me tirar dali, mas não foi o que aconteceu. No meio do dia seguinte Will apareceu com um prato de comida.

- Will!- eu chamei após ele ter praticamente jogado o prato na minha direção e virado das costas, ele virou-se novamente, mas não me olhou. - Será que você não pode me colocar no depósito de pólvora pelo menos? Aqui tá molhado e fedendo a peixe...

- Você é minha refém! - ele disse sério. A tentativa do Will em ser um pirata malvado não funcionava muito bem.

- Eu sei! Tudo bem! Eu não vou morrer por causa disso! – eu disse revirando os olhos. Às vezes a infantilidade dele me irritava!

- Eu vou pensar! – disse ele depois de alguns segundos de silêncio e indo embora sem dizer mais nada. O pior de tudo, era que eu não entendia o porque ele estava agindo daquela maneira... seria por causa do meu recém falido noivado? Ou de não ter ido atrás de seu irmão?

O tempo passou enquanto eu fiquei ali alimentando minha dúvida e acabei me esquecendo da comida.

- Greve de fome não funciona comigo! - disse Will saindo da escuridão que estava o porão.

- Não tô fazendo greve de fome! - eu disse sorrindo, aproveitando que era ele quem finalmente estava falando. - Só estou sem fome mesmo!

- Se quiser, daqui a pouco teremos uma sopa quente! - ele disse se apoiando nas grades. Agora sim, ele voltou ser o pirata que eu conhecia, combinava mais com ele!

- Obrigada! - disse eu sentada no monte de palha molhada, que deveria funcionar como cama para os prisioneiros que Will nunca teve.  Ele me encarou por alguns instantes e respirou fundo.

- Vamos... - disse ele abrindo a porta.

- Tudo bem Will, não vou morrer se ficar aqui! Eu já disse!

- Anda logo! Não quero você doente! - disse ele me esperando do lado de fora, eu sai e ele me guiou em silêncio até sua cabine.

- Espero que goste da nova cela! – ele disse sarcasticamente, porém parecendo um tanto desanimado.

- Você tá chateado comigo? - eu perguntei procurando pelos seus olhos, mas ele parecia entretido, brincando com as chaves em suas mãos.

- Não! – exclamou ele me encarando de repente. Ele se virou saindo da cabine. -Tome um banho quente, tem algumas roupas secas no armário se você quiser...  – ele disse parando segurando a porta. – Seu noivo ficaria uma fera se quando ele voltar te buscar, você estiver doente!

- Meu ex-noivo! - eu corrigi olhando para a aliança no meu dedo. – e SE ele vier me resgatar...

- Ah Liv!- ele suspirou - Assim como você podia ter feito algo, ele também podia ter feito alguma coisa, você era noiva dele, ele deveria ter feito algo para te salvar... mas nenhum de vocês fez, isso não necessariamente indica o fim...

- Não? - perguntei olhando para Will, tentando evitar algumas lágrimas que começaram a embaçar meus olhos.

- Tá! Eu tentei te animar, mas pra falar a verdade, nenhum de vocês realmente correu atrás, vocês são orgulhosos demais! - ele disse ainda na porta.

- Eu sei! - eu disse. Claro que sabia, só não podia admitir aquilo. Doía demais dizer que o erro também havia sido meu, e agora era tarde demais.

- Tome seu banho, e daqui a pouco trago seu jantar! - ele disse encostando a porta. E foi exatamente isso que eu fiz, tomei um banho quente e vesti uma roupa seca de Will, que ficou um pouco grande. Quando sai, lá estava ele sentado à mesa me esperando para jantar.

- Obrigada! - eu disse enquanto ele olhava alguns mapas, e apenas sorriu. - Para onde estamos indo? - eu perguntei me sentando para jantar.

- Na verdade... eu gostaria de ver isso com você! - ele disse ainda analisando os mapas. – Você sabe que eu quero ir atrás do Fokke, mas isso só será possível se você me ajudar, e se você concordar...- ele disse calmamente, eu assenti. - Eu não tenho muitos homens e você navega bem... - ele continuou, tirando seus olhos dos mapas e me encarando, eu esperei pra que ele continuasse. - Mas, caso você ache que foi uma idéia de impulso e que não vale pena, que você quer voltar pro reino, tudo bem, podemos ficar por aqui saqueando piratas falidos, enquanto ninguém vem te resgatar. - ele completou antes que eu pudesse responder.

- Se vierem me buscar... – eu disse distraída. Ele sorriu e deu com os ombros.

- Ou, eu posso te levar... – ele disse dando com os ombros.

- Estou disposta quero ir atrás de Fokke e descobrir o que aconteceu com meu pai! - eu o interrompi. Ele arregalou seus olhos negros e me avaliou por alguns segundos.

- Vai ser perigoso! - ele avisou mais uma vez, me olhando. – Ou melhor, vai ser um pouco... suicida! – ele exclamou sorrindo.

- Não tenho medo! - menti eu, enfiando uma colherada de sopa na boca.  É claro que tinha medo, mas por meu pai, eu faria qualquer coisa.

- Ótimo! - ele disse sorrindo, pegando seus mapas indo para porta. - Boa Noite então! - ele disse.

- Will! - chamei eu, e ele deu meia volta. - Você não vai dormir aqui? Eu durmo no sofá, não tem problema!- eu disse e ele sorriu.

- Não! Não posso! Carlinhos ficaria uma fera! Pode ficar com a cama mesmo.- disse ele me olhando. - Vá dormir cedo, porque amanhã será um longo dia! - ele disse fechando a porta.

O dia seguinte, realmente foi turbulento, ventava demais, e ventos instáveis, cada hora tínhamos que mudar a direção ou nos chocaríamos contra algo, eu assumi o leme, já que Will tinha poucos marujos. No final eu estava encharcada e cansada.

- Você fez um ótimo trabalho hoje! - disse Will no fim da tarde, quando o mar já estava calmo e sem ventos.

- Obrigada! - eu disse sorrindo.

- Pode deixar, eu assumo! - ele disse segurando o leme atrás de mim, e senti um arrepio quando suas mãos tocaram as minhas. - Pode ir! - ele disse sorrindo.

- Não prefere que eu fique aqui caso...

- Não! - respondeu ele antes que eu terminasse. - Desça, tem uma roupa seca pra você em cima da cama! Qualquer coisa, eu mando te chamar!- ele disse. Eu me virei pra sair, ficando cara a cara com ele, encarando aqueles olhos negros, ele não fez menção a tirar nenhum de seus braços que agora seguravam o leme envolta dos meus quadris . Ele me encarou por mais alguns segundos. Eu respirei fundo tentando me concentrar, mas era impossível com ele tão perto. Eu estendi minha mão para o tirar do caminho, mas minhas mãos tocaram seu peitoral, já que ele estava sem camisa.

Minha concentração foi pro espaço no mesmo segundo. Eu fechei os olhos e senti seu cavanhaque encostar no meu queixo, sua respiração quente em mim. Eu virei o rosto e o afastei, saindo de lá antes que pudesse acontecer alguma coisa.

Eu fui direto pra cabine, tomei um banho quente e aproveitei para tentar colocar minha cabeça em ordem. Como minha vida havia virado de cabeça pra baixo na ultima semana. Tudo havia mudado! A morte do meu pai, um noivado, um desnoivado, e agora eu estava em um navio pirata, seguindo uma rota suicida, pensando em meu noivo, mas me sentindo atraída pelo seu irmão, meu ex-namorado, ou algo parecido. A porta da cabine se abriu de repente.

- Trouxe algo pra você! - disse Will entrando com uma bandeja e deixando em cima da mesa, eu apenas sorri desanimada.

- Will... - chamei quando ele arrumava a mesa para eu comer, ele me olhou. - Você acha que seu irmão está pensando em mim?!

- Claro! - respondeu ele rapidamente.

- E por que ele ainda não veio me buscar? - eu perguntei – Ele estava minutos de distancia de nós... – eu continuei. Will sorriu calmamente e veio sentar ao meu lado.

- Você quer a resposta animadora e romântica, ou a que eu acho ser verdade, baseado no que eu conheço meu irmão...

- A verdade! - disse eu sorrindo desanimada.

- Ele vai vir te buscar! Claro! Ele te ama! Sempre te amou...Mas antes, ele vai tentar te esquecer, e quando ele perceber que não consegue, ele virá! - disse ele tentando sorrir.

- Tentar me esquecer? - eu perguntei confusa.

- Tortuga! - explicou ele. - Costumávamos ir até lá quando éramos mais jovens! - ele disse corando.

- Não acredito que vocês faziam isso! - eu disse. Uma parte de mim acreditava, afinal, eles eram homens, mas outra parte tentava me lembrar de como Carlinhos era tímido e romântico.

- Pois é! As garotas de lá adoravam meu irmão por ele ser todo tímido e romântico... - ele disse, e por um momento achei que eu devia ter pensado alto. Mas pensando bem, nestes aspectos ele não era tão tímido assim, mas era romântico!

- Você acha mesmo que ele foi pra lá? - eu perguntei não querendo ouvir a resposta, Will sorriu.

- Eu podia te enganar e falar que não! Mas eu conheço Carlinhos! Não é a primeira vez que ele tenta te esquecer! – disse Will rindo da cara que eu devo ter feito.

- Você sabia que ele gostava de mim?! – eu perguntei incrédula.

- Liv! Todo mundo sabia! – ele disse revirando os olhos.

- E você ficou comigo mesmo assim... – eu não conseguia acreditar em Will!

- Ah Liv! Nem vem com essa! – ele exclamou balançando a cabeça. – Eu tentei resistir a você, e você sabe muito bem disso...

- Você podia...

- Não! – interrompeu ele sem nem ao menos me ouvir. Nós ficamos em silêncio por alguns minutos.

- Você acha mesmo que ele... – eu comecei novamente. Will assentiu, não me deixando terminar novamente.

- Eu tenho quase certeza que neste momento ele está em Tortuga! - ele disse me encarando.

- Droga! - eu exclamei procurando afastar Carlinhos da minha cabeça. Will parecia se divertir com o meu sofrimento.

- Venha comer! E esquece isso por enquanto!- disse ele sorrindo. - Meu irmão ama você, mas ele só ficou desapontado de você não acabar logo comigo e ir com ele me entregar para seu irmão.

- Eu acho que Jack não te perdoaria! - eu disse sorrindo. - Afinal de contas, ele é o novo rei e não gosta muito de piratas! - eu disse rindo. Will riu também. Ele e Jack já haviam se encontrado algumas vezes e eles realmente não eram grandes amigos.

- Tenho certeza que ele não me perdoaria! - Will disse. - Seu irmão pode ser uma boa pessoa, mas...

- Ele prefere ficar lá e vocês piratas aqui no mar, bem longe dele! - eu disse sorrindo. E era exatamente isso, Jack não ligava muito para a pirataria, já que quase nunca eles faziam algo que afetavam o reino. Claro que isso era hoje, pois na época do pai de Will, piratas e reis eram inimigos mortais e um fazia de tudo para acabar com o outro.

- Princesa, eu vou me retirar, preciso descansar um pouco! Logo deveremos aportar, pois os estoques de água já estão no fim! - ele disse saindo da cabine. Era estranho, Carlinhos não saia da minha mente, na maioria das horas do dia, mas quando eu estava com Will, eu pensava nele, claro, mas Will me fazia sentir bem melhor, e muitas vezes eu consegui até esquecer Carlinhos por alguns instantes.

Eu passei os dias que se seguiram tentando evitar Will a todo custo. Na maior parte do dia era fácil. Já que o mar não estava colaborando muito pra nossa viagem. Eu procurava conversar com ele nos momentos em que percebia que ele estava ocupado, e no inicio da noite, quando o mar começava a acalmar eu já pedia para alguém trocar comigo, para eu poder descansar. Sem dar chance de acabarmos ficando sozinhos e cometermos algum erro.

CAPÍTULO VI - REVELAÇÕES

Eu não sei quanto tempo fiquei adormecida naquela cadeira. Mas acordei com uma discussão entre Will e Carlinhos, e eles pareciam muito nervosos.

                - Ele pode invadir o reino... – disse Will olhando sério para o irmão.

                - Ele não iria tão longe... temos um exercito! – rebateu Carlinhos.

                - Caca! Ele é um pirata! Ele não iria liderar uma invasão com muitos homens! Ele daria um jeito de entrar no castelo e pegar o medalhão! – Will disse encarando Carlinhos.

                - Nós poderíamos dobrar a segurança no castelo...

                - Por quanto tempo?! – Will perguntou sarcasticamente. Ele pode atacar hoje a tarde, como ele pode atacar daqui 10 anos!

                - A melhor maneira de pará-lo seria... – eu comecei. Os dois me encararam surpreso, pareciam não ter percebido que eu estava acordada. Eu tentei parecer que não havia percebido a surpresa deles – Ir atrás dele!

                - Liv... – começou Carlinhos segurando minhas mãos e olhando nos meus olhos. – Eu não quero arriscar te perder!

                - Você não vai me perder! – eu disse. Carlinhos me encarou por alguns segundos mas não disse nada.

                - Cacá! Ela ta certa! Você sabe disso! É a melhor forma! E ele não vai tentar nos afundar! Não se fizermos tudo do jeito certo! E nós temos chance contra ele!

                - Ele é imortal... – disse Carlinhos desanimado.

                - A Liv tem o medalhão! – disse Will.

                - Mesmo assim... – disse Carlinhos tentando ser racional.

                - A Liv é uma ótima navegadora, e luta muito bem! Você é o melhor homem do exercito real! E eu, bom.... eu tenho o navio mais rápido das redondezas, e tenho meus truques também! – disse Will sorrindo.

                - Não sei Will! – disse Carlinhos sério.

                - Por favor?! – eu pedi o encarando. Ele me olhou nos olhos desanimado.

                - Não agora! – disse Carlinhos desanimado. – Vamos voltar, explicamos tudo pro Jack,  montamos um plano... nos casamos... – continuou ele com seus olhos verdes em mim.

                - Casar?! – perguntou Will surpreso.

                - Ah! – exclamou Carlinhos sorrindo de repente. – Estamos noivos, dá pra acreditar?! – ele perguntou indo até Will. Will olhou pra mim desapontado e então sorriu pra Carlinhos.

                - Parabéns! – exclamou Will sem muito entusiasmo abraçando o irmão. O clima ficou um pouco pesado. Mais pesado do que quando conversávamos sobre Fokke. Carlinhos parecia confuso.

                - Will, eu posso falar com você um minutinho?! – eu perguntei. Carlinhos me olhou ainda mais confuso. O que eu podia fazer?! Will me indicou o caminho até seu “quarto”. Nós fomos em silêncio. Eu podia sentir o olhar de Carlinhos queimando em nossas costas.

                - Noiva?! – ele perguntou quando estávamos sozinhos.

                - Eu sei Will! Mas...

                - Noiva... – ele repetiu ainda sem acreditar. – Eu achei que você ia voltar...

                - Me desculpa! – eu disse. Eu não queria ver Will magoado.

                - Eu realmente fiquei muito triste quando vi seu pai... morto! Mas ao mesmo tempo, eu achei que você fosse voltar! – ele disse sem me olhar. Eu não evitei o encarar nos olhos.

                - Eu sei que eu disse que meu pai era a única coisa que me prendia no reino! E que eu ia voltar pra você...

                - Você não achou que eu tinha matado seu pai, só pra você voltar, achou?! – ele me perguntou muito sério.

                - Claro que não! – eu disse. A verdade é que eu não havia pensado no que eu havia prometido. Eu achei que ele já havia se esquecido de mim e de nossas promessas! Ele me encarou em silêncio por um tempo, respirou fundo e me abraçou. - Will! Eu gosto do seu irmão! De verdade! E ele gosta de mim...

                - Eu sei! Eu só não esperava! Me pegou um pouco de surpresa! – ele disse me encarando ainda um pouco confuso.

                - Me desculpa, eu...

                - Tudo bem! – ele disse sorrindo. – Só quero que vocês dois sejam muito felizes! Eu me importo de verdade com vocês e quero que vocês sejam felizes, Liv! Do fundo do meu coração! – ele disse parecendo sincero. Eu o encarei séria.

                - Will...

                - Ele sabe de alguma coisa?! – Will perguntou abaixando a voz.

                - Não! – eu respondi desapontada comigo mesma.

                - Ah! – exclamou Will arregalando seus olhos.

                - Eu quero contar... – eu disse.

                - Acho que esse não é o melhor momento! – Will disse pensativo. Carlinhos apareceu de repente, no vão entre a parede e o biombo.

                - Tem alguma coisa que eu estou perdendo?! – Carlinhos perguntou sério. Eu me sentei na grande cama de arcos de Will. Esse teria que ser o momento. Will me encarou por alguns segundos.

                - Você lembra quando eu fui estudar fora?! – eu perguntei sem tirar os olhos dos meus pés.

                - Navegação! Claro! Foi um dos piores anos da minha vida! – disse Carlinhos com um sorriso fraco.

                - Então! Não foi fora que eu fui estudar... quer dizer...

                - Ela passou esse tempo comigo! – disse Will de repente, se sentando ao meu lado. Carlinhos arregalou seus olhos verdes.

                - Ah! – exclamou ele. Seus olhos verdes pareciam muito maiores agora. – Pelo menos você teve um ótimo professor! – ele disse forçando um sorriso.

                - A intenção do meu pai era essa! Ter o melhor professor de navegação... mas, bom... – eu tentei continuar.

                - A gente acabou tendo um caso! – disse Will. Eu o agradeci por continuar as minhas frases difíceis.

                - Um caso?! – avaliou Carlinhos confuso.

                - Mas acabou! – disse Will muito sério. Eu concordei com a cabeça.

                - Acabou... – repetiu Carlinhos. Seus olhos verdes nos mediram por alguns instantes. Will estremeceu ao meu lado.

                - Acabou! – eu e Will dissemos em uníssono. Carlinhos continuou onde estava, pensando por alguns segundos.

                - Caca! A Liv era uma menina! Ela mudou agora! – disse Will tentando me ajudar.

                - Menina ou não, você se aproveitou... – disse Carlinhos. Havia uma pontinha de ódio em sua voz.

                - Eu sou um pirata! – disse Will dando com os ombros. – Ela era bonita! É bonita... não teve como resistir! Você não faria o mesmo?! – ele perguntou. Carlinhos me encarou por alguns segundos.

                - Claro! – Carlinhos respondeu sério. Os dois começaram a travar um verdadeiro duelo de olhares.

                - Nós temos coisas mais importantes pra nos preocuparmos! – eu disse tentando fazer com que eles parassem.

                - Fokke! Claro! – disse Will desviando seu olhar e Carlinhos.

                - Quando partimos?! – eu perguntei tentando afastar mudar o mais rápido possível de assunto. Carlinhos me encarou sério.

                - Amanhã voltamos ao reino, explicamos tudo pro seu irmão, nos casamos, reunimos o exercito e então podemos partir atrás de Fokke! – disse Carlinhos calmamente. Will pareceu não concordar, mas não disse nada, apenas respirou fundo.

                - Jack?! – eu perguntei incrédula. – Ele nunca vai ser a favor disso! Ele não pode nem sonhar no que vamos fazer...

                - Liv! Ele é seu irmão! Ele é Rei agora, eu não posso...

                - Claro que pode! – eu interrompi.

                - Liv... ou voltamos e contamos tudo pro seu irmão, ou não vamos! Esperamos ele vir até o reino e...

                - A gente só vai perder tempo! – Era pura perda de tempo. Eu já podia ver a cara do meu irmão quando contássemos à ele sobre isso.

                - Eu ainda posso ainda ter um reforço do exercito! – disse Carlinhos parecendo mais confiante.

                - Eu concordo com a Liv! Vocês só vão perder tempo! – disse finalmente Will quando alguém bateu a porta. Carlinhos revirou os olhos, enquanto Will se afastou. Carlinhos me encarou confuso por alguns instantes.

                - Você e Will?! Por que você não me contou antes?! – ele se sentando ao meu lado.

                - Não sei! Um pouco de medo, eu acho! – eu disse quando ele segurou minha mão.

                - Medo?! – ele perguntou sério.

                - Medo... de te perder, não sei! – eu respondi aflita. Will voltou sorrindo.

                - Temos comida! – ele informou.

                - Que bom! Eu to morrendo de fome! – eu exclamei me afastando dali. Era complicado conversar com Carlinhos sobre meu relacionamento com o irmão dele. Os dois me seguiram até a mesa, onde nós almoçamos. Carlinhos continuava decidido a voltar e ele fazia questão de que Will nos acompanhasse para que ele mesmo pudesse contar a história à Jack. Eu e Will não gostamos muita da idéia, mas ele estava extremamente determinado a isso. Quando escureceu, eu e Carlinhos voltamos para o navio real, e estava decidido que voltaríamos para o reino amanhã no inicio da tarde.

                Eu já estava deitada quando Carlinhos saiu do banho. Ele se deitou ao meu lado e me encarou por alguns segundos e depois sorriu. Eu retribui seu sorriso, e seus lábios tocaram meu pescoço e ele me abraçou.

                - Achei que você estava chateado! – eu disse o abraçando.

                - Por que?! – ele perguntou quando eu comecei a acariciar seu abdômen.

                - Não sei! Por hoje! Will e eu ficarmos insistindo em ir atrás do Fokke! – eu disse. Ele fez uma careta.

                - Não! Deve ter sido muito pior pra você! – ele disse acariciando meu rosto com seu polegar, e me beijando.

                - Pra mim?! – eu perguntei quando ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

                - Claro! Reviver a morte do seu pai...toda a história do medalhão! E depois me explicar sobre você e Will! – ele disse calmamente. – Foi um dia e tanto pra você!

                - Um pouco! – eu disse respirando fundo e repensando tudo o que eu tinha descoberto até agora. Nós nos encaramos por alguns segundos e nós nos beijamos. Eu me sentia tão segura e protegida com Carlinhos.

                - Você e Willian... – ele suspirou me soltando e olhando o lustre. Eu me acomodei sobre seu braço, eu pretendia evitar este assunto o máximo possível.

                - É passado! – eu disse acariciando seu abdômen. Ele me encarou sério por alguns segundos e brincou com seu polegar em meus lábios.

                - Você tem certeza?! – ele perguntou de repente olhando fundo nos meus olhos. Eu respirei fundo e desviei meu olhar. Não! Eu não tinha certeza! Quer dizer, faziam meses que eu não pensava em Will desta maneira, mas reencontrar ele, trouxe de volta vários sentimentos que estavam escondidos em algum lugar.

                - Certeza! – eu suspirei o abraçando. Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

                - Tudo bem! – ele pareceu desconfiado, e não muito satisfeito com a minha resposta. – Pronta pra ir embora amanhã?! – ele perguntou mudando o assunto.

                - Você sabe o que eu penso! – eu disse voltando à o olhar nos olhos. Ele sorriu. Aquele sorriso que me deixava totalmente sem ação.

                - Você é tão teimosa! – ele disse ainda sorrindo. – Eu vou convencer seu irmão e nós vamos atrás do Fokke, como você quer!

                - Claro! – eu exclamei. Jack nunca iria concordar e Carlinhos sabia muito bem disso! Vir atrás de Will, era uma coisa, atrás de Fokke, era outra muito diferente! E Jack acreditava cegamente que seu exercito era imbatível.

                - Não vou dizer que vai ser fácil! – ele disse se virando pra ficar frente a frente comigo. – Mas tenho certeza que um dia seu irmão vai concordar! Você vai ver....

                - Ah! Um dia! Claro! Daqui uns 10 anos, quem sabe?! – eu disse.

                Ele riu da minha reação por alguns segundos e então me encarou com seus olhos verdes nos meus olhos e acariciou meu rosto. O toque de sua pele era tão quente e macio. Então, ele pegou minha mão e começou a brincar com meus dedos por alguns segundos. Ele me encarou e sorriu, aquele sorriso tímido que me deixava sem ar.

                - Eu tava imaginando... – ele começou, e então parou de repente. Seus olhos foram da minha mão para os meus olhos.

                - O que?! – eu perguntei tentando ler seus pensamentos. Ele riu novamente.

                - Nada! – ele sorriu voltando seus olhos para minha mão enquanto brincava com a antiga aliança da minha mãe.

                - Fala! – eu o encorajei sorrindo. Ele revirou os olhos e corou.

                - Não é nada Liv! – ele disse rindo. O som da sua voz dizendo meu nome me fez corar. Eu fiz um biquinho e ele riu acariciando meu rosto novamente. – Chantagista! – ele me acusou ainda rindo.

                - Então fala! – eu repliquei. Ele respirou fundo, parecia estar decidindo se me dizia ou não. Ele mordeu o canto esquerdo do seu lábio ainda pensativo e então sorriu.

                - Nada! Eu só estava imaginando como você gostaria que fosse nossa aliança!- ele disse sem me olhar nos olhos. Eu não consegui me conter e ri. – Você já tem tantas jóias e coisas assim, queria que fosse alguma coisa especial... – ele disse timidamente. Eu o encarei sorrindo.

                - Você sabe que eu não ligo pra isso! E esta aliança da minha mãe foi perfeita!– eu respondi.

                - Mesmo assim, essa foi idéia do Jack! Eu queria alguma coisa nossa! – ele disse corando. Mas de repente ele ficou pensativo e arregalou seus olhos verdes e me encarou desconfiado. – Não liga pro nosso casamento ou... – ele perguntou finalmente. Eu revirei o olhos.

                - Não ligo pras jóias! – eu respondi. Então ele sorriu. E ficamos em silêncio por alguns segundos.

                - Olívia Tach! – ele disse de repente quebrando o silêncio. Eu ri de mim mesma! Há alguns anos antes eu já havia pensado nisso. Mas o Tach em questão, era outro!

                - É eu gosto! – eu disse ainda sorrindo.