terça-feira, 24 de março de 2009

CAPITULO I - A MORTE DO REI


Tudo começou no dia em que meu pai morreu. Eu e meu pai, o rei, éramos muito unidos. Tínhamos uma ligação muito forte, ele dizia que eu fui o filho que meu irmão não foi. Não que Jack e o papai se dessem mal, o problema é que Jack não gostava de coisas como lutar e navegar, e eu adorava fazer essas coisas “de homens”, e assim, meu pai desde pequena me ensinara a lutar, navegar e a cuspir como um homem, mesmo eu sendo apenas uma garota.

Aquele dia amanheceu nublado e logo cedo bateram em minha porta. Era Carlinhos, o braço direito do meu irmão, comandante do exercito do reino. Ele havia sido criado pelo ferreiro, já que sua mãe morreu quando ele ainda era criança. Ele havia me treinado e ensinado muito sobre espadas e coisas do tipo. Não vou mentir, mas já fazia tempo que eu sentia uma certa atração por aqueles olhos verdes, seu cabelo castanho claro. Ele era pouco mais alto que eu, e apesar de magrinho, tinha uma barriguinha invejável. Mas vamos parar por aqui, pois é da morte do meu pai que estamos falando.

Carlinhos bateu na porta e enviou a cabeça pelo vão. Seus olhos estavam estranhamente vermelhos, e ele parecia triste, ou preocupado. Normalmente Carlinhos estava sempre parecendo alegre, e sorrindo para mim. Nas aulas que ele me dava, ele era sempre bem humorado e ria de todas as coisas que eu fazia. Mas naquela manhã ele estava diferente. Algo dentro de mim, já dizia que havia algo muito errado acontecendo, pois eram raras as aparições dele no meu quarto.

- Posso entrar?- perguntou ele respirando fundo quando eu sentei em minha cama.

- Aconteceu alguma coisa? - eu perguntei desconfiada. Ele assentiu com a cabeça e caminhou até a cama, sentando-se ao meu lado.  Meu quarto ainda estava pouco iluminado, graças as cortinas de seda que cobriam as gigantescas janelas que davam direto para o jardim do castelo. O rosto de Carlinhos parecia pálido diante da pouca luz que entrava através das cortinas. Ele me encarou por alguns segundos e engoliu seco.

- O navio do seu pai foi abatido... o corpo do rei acabou de chegar ao porto. - disse ele com uma voz muito rouca pegando a minha mão. Eu abri a boca pra falar, mas minha voz havia ido embora. Era um pesadelo, só poderia ser!  Eu pisquei algumas vezes tentando processar toda aquela informação. Carlinhos estava com os olhos fixos em minhas mãos.

- Mas meu pai ta bem? – eu ouvi minha própria voz perguntar.  Meus olhos se voltaram para o rosto dele de repente, esperando ele fosse se virar e me dizer que tudo isso não passava de uma brincadeira de mal gosto. O ar começou a se tornar denso e pesado enquanto ele não me respondia. De repente Carlinhos me olhou nos olhos e respirou fundo.

- Ele se foi princesa! – ele disse segurando minha mão ainda mais forte. Meu estomago deu um salto, e eu senti como se alguém tivesse arrancado meus pulmões fora, eu não conseguia respirar, e sentia lagrimas escorrerem pelo meu rosto. A pouca claridade do meu quarto se tornou intensamente escura.

- Meu pai....- eu comecei tentando entender direito, eu não sabia se estava pronunciando as palavras em voz alta. Eu me sentia fraca pra dizer qualquer coisa que fosse em voz alta, mas eu precisava entender o que Carlinhos estava tentando me dizer. – Meu pai... morreu? – eu perguntei tentando encarar Carlinhos por trás das lágrimas que embaçavam meus olhos. Ele assentiu tristemente afastando as lágrimas.

- Eu sinto muito! – ele disse. Sua voz ficou ainda mais rouca e seus olhos muito mais vermelhos. Ele piscou várias vezes.

 – Não pode ser! – eu exclamei nervosa. Pra mim era impossível, meu pai era o melhor navegador que existia. Mas Carlinhos não sorriu e disse que estava brincando, ele apenas olhou nos meus olhos, e permaneceu em silêncio. Eu abracei meus joelhos, e me sentia caindo num poço sem fundo.

- Eu sinto muito princesa! - repetiu ele quebrando o silêncio e me abraçando. Eu enfiei minha cabeça em seu ombro e chorei. Não sei quanto tempo se passou, mas continuamos ali.

Algumas vezes eu ouvi Carlinhos dizer alguma coisa no meu ouvido, mas minha cabeça parecia estar tão longe que eu não conseguia entender. Eu ouvi a porta do meu quarto abrir e fechar várias vezes e pude reparar na claridade que mesmo escondida em Carlinhos, ofuscou meus olhos. Foi então que eu percebi que eu estava soluçando tão alto que outros empregados já estavam no quarto pra ver se eu estava bem. Todos eles me encaravam com os olhos tristes. Todos os empregados do castelo gostavam muito da minha família, na verdade eles eram parte da nossa família

- Vamos Liv! Vamos colocar uma roupa agora! – disse Janice, uma das camareiras que praticamente me criou. Ela tentou em vão me tirar da cama. Eu fiz que não com a cabeça, tudo o que eu queria era ficar na minha cama o resto da vida. Meu pai era tudo pra mim.

- Jonatan! – exclamou Janice. – Traz alguma coisa pra ela comer, enquanto eu ajudo ela a se vestir! – mandou ela para um dos cozinheiros, eu percebi que ela também enxugava seu rosto com a manga de seu vestido. Jonatan, o nosso cozinheiro se aproximou com seu rosto redondo e seus olhos azuis marejados, suas bochechas estavam mais rosadas que o normal. Ele deu um sorriso fraco pra mim.

- Panquecas? – ele perguntou tentando me animar. Eu fechei os olhos mais uma fez e fiz que não. Minha cabeça pareceu dar várias voltas quando eu fiz este movimento. Carlinhos me segurou mais firme para que eu não caísse da cama.

- Menina Liv! – disse Jonatan tentando espantar algumas lágrimas que desciam pelo seu rosto redondo e rosado. – Você precisa comer alguma coisa! Não queremos que você fique doente!

- Eu não quero! – eu disse reparando que os braços de Carlinhos ainda me seguravam, como se minha cabeça ainda tivesse girando. Eu o segurei com mais força seus braços.

- Anda logo homem! – exclamou Janice nervosa. – Traga logo alguma coisa! Ela vai ter que comer! – disse ela muito séria, sem me olhar. Jonatan saiu em disparada pela porta do quarto.

- Liv querida.... – disse o cocheiro, seu Alejandro, tentando sorrir. – Você precisa ser forte agora! Seu irmão vai precisar de você! – ele disse com sua voz calma e arrastada. E foi então que eu pensei em Jack. Provavelmente, ele seria coroado rei. Eu tinha certeza que ele seria ótimo. Mas como ele estava reagindo a tudo isso, e porque ele não estava aqui comigo?!

- Jack?! – eu perguntei encarando Carlinhos – Como ele está?! – eu perguntei, minha voz saiu muito mais baixa do que eu esperava. Carlinhos tentou sorrir.

- Não tão mal quanto você! Mas bem abalado! – ele disse enxugando as lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto com a manga de sua camisa. Jack e papai eram muito próximos também, apesar de não terem muitas coisas em comum.

- Ele vai virar rei?! – eu perguntei, mas assim que ouvi minha pergunta, achei infantil demais, e pelo jeito todos no quarto concordaram, já que todos riram, inclusive Carlinhos.

- Sim! Em alguns dias ele vai ser coroado rei! – respondeu Carlinhos pacientemente. Eu ainda achava que tudo isso deveria ser um pesadelo, um pesadelo horrível, e o que eu mais queria era acordar logo. Eu devo ter voltado a soluçar, pois Carlinhos me abraçou ainda mais forte. Sua camisa azul marinho já estava toda molhada com as minhas lágrimas.

- Vamos! Andem logo! Saiam daqui! – disse Janice de repente. – Eu vou vestir uma roupa nela e tirar ela desse quarto! – Carlinhos de repente afrouxou os braços ao meu redor, mas eu o segurei. Eu estava me sentindo tão frágil e desprotegida de repente. Ele me encarou sério e passou seu polegar pelo meu rosto.

- Eu volto logo! – ele disse dando um beijo no meu rosto, e me ajudando a levantar da cama e então se afastando em silêncio. Janice me pegou quase no mesmo instante. Eu me senti com frio e doente. Janice me forçou a sair de perto da cama. Eu estava tão grogue, que parecia ter perdido totalmente o controle sobre meu corpo.

- Liv! Você precisa ser forte agora! – ela disse me abraçando e dando um beijo na minha testa. Seus olhos também estavam vermelhos e molhados. Eu nunca havia visto Janice daquele jeito. Normalmente ela é séria, mas seus olhos pareciam tão tristes hoje.

- Eu não consigo! – eu exclamei afundando meu rosto em seu ombro. Eu sentia meu corpo tremer involuntariamente. Ela me embalou, como se embala um bebe com meses de vida.

- Seu pai não iria querer te ver assim! – ela disse com uma voz fraca. Passando a mão sobre a minha cabeça.

- Mas... – eu comecei, mas a verdade é que eu não fazia nem idéia do que dizer, e por isso eu continuei a chorar, sem saber o que dizer, ou o que fazer. Eu sabia que devia ter ido junto com meu pai, mas ele disse que seria muito rápido e seria só uma viagem a negócios, que não tinha razão nenhuma pra eu ir junto. Janice me colocou sentada em uma poltrona do quarto e foi até o closet. Algum tempo depois ela voltou com alguns cabides nos braços.

- Eu preciso que você se levante! – ela disse. Janice começou a trabalhar no castelo muito nova, ela deveria ter uns 14 anos. Mais tarde, ela ajudou no casamento dos meus pais, e nos dois partos da minha mãe. E ajudou quando minha mãe ficou doente e faleceu. E desde então ela cuidou de mim como se fosse sua própria filha, já que ela e minha mãe ficaram muito amigas. Ela era viúva, e não tinha filhos. Eu mesma não cheguei a conhecer seu marido, mas meu pai sempre dizia que ele era um ótimo cavaleiro, que morreu em uma batalha alguns anos antes de eu nascer, quando eles ainda eram praticamente recém casados.

Eu só fui perceber que estava vestida quando Janice me colocou sentada na penteadeira, em frente ao espelho. O vestido era comum, igual a praticamente a todos os outros, que me deixavam parecendo um bolo de casamento. Este era um bolo de casamento azulado, com algumas flores brancas, eu acho. Ela mexeu nas gavetas da penteadeira e começou a arrumar meu cabelo. Jonatan chegou trazendo um carrinho, com todas as coisas que eu gostava.

- Se você quiser mais alguma coisa, é só dizer... – disse ele com um sorriso fraco me olhando pelo espelho, seu rosto ainda estava estranhamento rosado e seus olhos, que normalmente pareciam duas bolas de gude azuis claras, estavam inchados e vermelhos.

- Obrigada Jô! – eu respondi segurando sua mão. Ele deixou o carrinho de comida ao meu lado, deu um beijo no meu rosto e saiu do quarto. Janice colocou o prato de panquecas sobre a penteadeira. Eu a encarei ainda pelo reflexo do espelho.

- Você vai ter que comer! – ela disse muito séria. Eu apenas continuei a encarando, ela era sempre assim, estava sempre mandando em mim e no meu irmão, e nós sempre obedecíamos, mas hoje, meu estomago estava embrulhado demais, ela então me olhou ameaçadoramente. – Anda! – ela disse impaciente.

- Não tô com fome! – eu respondi desanimada. Ela revirou os olhos e respirou fundo. Suas narinas se alargaram e seus olhos negros quase perfuraram os meus pelo espelho. Confesso que fiquei com medo e quase engoli o prato de panquecas quase inteiro, mas no momento em que estendi meu braço para alcança-lo alguém bateu na porta novamente.

- Pode entrar! – gritou Janice se virando para a porta, eu imediatamente coloquei meu braço sobre meus joelhos novamente. Carlinhos entrou parecendo, ou tentando parecer mais animado.

- Você está linda! – ele disse sorrindo. Eu forcei um sorriso, mas não respondi. Janice me encarou e então seus olhos correram para o prato de panquecas que ainda estava sobre a penteadeira.

- Ela não quer comer! – disse Janice muito séria terminando meu cabelo. Eu evitei encara-la pelo reflexo do espelho novamente. Eu não respondi, comecei a prestar atenção nas flores azuis claro que estampavam meu vestido.

- Princesa... você precisa comer! – Carlinhos disse de repente. Eu finalmente ergui os olhos para poder encará-lo pelo espelho, fingindo que Janice não estava ali. Eu odiava quando ele me chamava de princesa, tudo bem que eu era filha do rei. Mas todos me chamavam pelo nome, porque ele também não podia fazer isso?!

- Eu não to com fome! – eu respondi mal humorada. O que eu mais queria agora era ficar sozinha. Sem ninguém me paparicando ou tendo pena de mim. Eu odiava me sentir dependente dos outros, e nesse momento minha cabeça estava tão ocupada pensando no papai, que era capaz de alguém até ter que me levar no banheiro! E como eu não queria isso, preferia ficar sozinha e fazer xixi na calça até que eu acordasse desse transe e fosse me limpar sozinha.

- Vamos princesa! Coma um pouco! O Jonatan vai ficar chateado se você não comer nada! – disse Carlinhos, e claro que ele estava certo! Jô era ótimo na cozinha, e ficava extremamente chateado quando deixamos de comer alguma coisa que ele preparava. Eu fugia do castelo todos os dias, pois se eu comesse tudo o que ele preparava, eu já teria ficado do tamanho de uma baleia. Os olhos de Carlinhos ainda estavam fixos em mim. Eu soltei um suspiro mal humorado.

- Tudo bem! – eu disse pegando um copo de suco que ainda estava no carrinho ao meu lado e virei de uma vez, sem nem ao menos respirar. Carlinhos riu, e Janice arrancou o copo da minha mão assim que ele ficou vazio. Eu limpei a boca com a manga do vestido, o que fez Janice fechar ainda mais a cara.

- Você vai passar mal desse jeito! – disse ela colocando o copo de volta no carrinho ainda cheio de frutas e biscoitos. Eu dei com os ombros. – Você está parecendo sua prima Catarina, toda mimada, que faz tudo pra irritar a mãe! – disse Janice com um sorriso maldoso entre os lábios. Ela sabia que eu odiava minha prima mimada e birrenta. Foi minha vez de fechar ainda mais a cara. Carlinhos riu da nossa pequena discussão. Nós ficamos em silêncio por mais alguns minutos. Minha cabeça foi levada novamente para longe dali.

- Princesa! – começou ele de repente fazendo meus pensamentos voltar. Ele se sentou ao meu lado e segurando minha mão. – Todos estamos tristes pelo que aconteceu! Eu sei que nem deve se comparar a dor que você está sentindo agora, mas você precisa reagir! – ele disse me olhando nos olhos. Mais algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto.

- Eu só preciso de tempo! – eu disse limpando meu rosto com a manga do vestido. Os dois me encaravam parecendo preocupados.  Janice acariciou mês ombros com um sorriso fraco.

- Tudo bem! – disse Carlinhos. – Nós sabemos disso! – continuou ele também forçando um sorriso animador. Eu tentei retribuir da melhor maneira possível.

- Quando vai ser o funeral?! – eu consegui perguntar. Janice e Carlinhos se encararam muito sérios, eu me senti como se ainda tivesse 5 anos e perguntasse por alguma coisa extremamente perigosa.

- Hoje a tarde! – Janice respondeu pensativa, como se avaliasse se devia ou não estar me dizendo aquilo. Eu assenti encarando meus joelhos, pensando por alguns minutos se eu deveria ir ao velório, ou não. Meu estomago deu mais um salto e meu coração parou de bater, quando eu imaginei meu pai dentro de um caixão, gelado e imóvel..

- Seria ruim se eu não fosse?! – eu perguntei ainda encarando meus joelhos. – Eu não quero ver... eu gostaria de lembrar do meu pai... dele vivo! Não quero que minha última lembrança seja do corpo dele, gelado, e....

- Tudo bem! – disse Carlinhos erguendo meu rosto. – Eu acho que não teria problema nenhum! – disse ele encarando Janice, ela sorriu aliviada e então me encarou pelo reflexo do espelho.

- Eu também acho que não tem problema! – disse ela acariciando meu cabelo. – Mas todos vão estar lá, eu só não queria que você ficasse sozinha... – ela continuou mordendo o canto do lábio em sinal de preocupação.

- Eu não vou fazer nenhuma besteira, se é disso que você está com medo! – eu disse a encarando pelo espelho. O que ela achava que eu poderia fazer?! Ela sorriu maternalmente.

- Mesmo assim, eu prefiro não te deixar sozinha Liv! – ela disse calmamente. – Seria bom se você tivesse alguém pra conversar e pra te lembrar de comer, as vezes....

- Eu posso ficar com ela! – disse Carlinhos a encarando, e de repente se virando para mim. – Se você concordar, princesa! – ele acrescentou rapidamente.

- Se isso te deixar mais tranqüila.... – eu disse encarando Janice ainda pelo espelho. Ela sorriu para mim e acariciou meu cabelo.

- Faça ela comer! – disse Janice para Carlinhos. – Eu vou estar na capela, se você precisar, mande me chamar! – disse ela me dando um beijo no rosto e saindo do quarto. Eu e Carlinhos ficamos ali alguns minutos em silêncio.

- E Jack?! – eu perguntei de repente quebrando o silêncio. Na verdade, foi quando eu me dei conta que eu ainda não havia visto meu irmão. Eu não fazia a mínima idéia de como ele estava enfrentando tudo isso. Jack sempre foi forte e responsável! Eu me senti extremamente egoísta por alguns segundos, afinal ele era tão filho do meu pai, quanto eu, e de repente parece que todos estavam dando atenção só pra mim!

- Ele está bem abalado, como eu já disse, mas vai ficar bem! Vocês dois vão ficar bem! – disse Carlinhos sério, e então ele me encarou por alguns segundos. – Ele disse que ainda não está pronto pra te ver!

- Por que?! – eu perguntei confusa.

- É uma das primeiras vezes que você e seu pai não viajaram juntos! E quando Jack ficou sabendo, ele ficou imaginando se você estivesse junto, o que teria acontecido...

- Talvez não acontecesse nada! – eu disse secamente. – Talvez eu pudesse ter ajudado em alguma coisa.

- Não! – exclamou Carlinhos me encarando sério. – Não sobrou nada do navio do seu pai princesa! Eles foram atacados de madrugada, próximos ao Estreito! Sem chances de se defenderem...

- Mas, talvez eu pudesse ter feito alguma coisa!

- Não princesa! – ele disse me encarando muito sério. – Eu fico louco só em pensar no que teria acontecido se você tivesse ido junto.

- Talvez... – eu comecei mais uma vez.

- Eu fiquei feliz de você não ter ido junto! – interrompeu ele. – Quer dizer, todos nós ficamos! – ele completou ficando vermelho. Nós nos encaramos por alguns segundos. Eu nunca havia reparado o quanto me sentia segura ao lado de Carlinhos. Ele passou o polegar pelo meu rosto. Eu não havia reparado que estávamos tão próximos, mas eu sentia sua respiração quente e seu hálito fresco tão próximos e tão tentadores. Eu ergui o rosto alguns centímetros pra poder sentir o gosto que tudo aquilo tinha, mas seu dedo indicador tocou meus lábios quando estávamos a milímetros de distância.

- Princesa! – sussurrou ele – Não seria certo isso! Eu estaria agindo mal... me aproveitando de você.... – terminou ele, eu abri os olhos a tempo de ver seus olhos verdes abrindo e me encarando. Nós ainda ficamos a milímetros de distancia por alguns segundos, até ele se afastar. Eu fechei os olhos com força me dando conta do que quase havia acabado de fazer. – Me desculpe.... eu não queria...

- Tudo bem! – eu interrompi abrindo os olhos. Eu não sabia onde estava com a cabeça. Durante aqueles segundos, eu praticamente esqueci meu pai e todo o resto. Eu sempre me senti atraída por Carlinhos, mas agora parecia muito mais forte do que atração.

- Eu não queria.... quer dizer.... eu...sinto muito! – ele se desculpou se levantando. Eu observei ele caminhar de um lado pro outro do quarto.

- Você não fez nada de errado! – eu disse tão calmamente, que até eu mesma me assustei. Ele parou de repente e me encarou por alguns segundos. Ele esfregou os olhos e passou a mão pelos cabelos castanhos claros, mas não disse nada. Ele ficou observando o chão por alguns instantes, e eu continuei sem dizer nada. De repente a porta se abriu fazendo nós dois darmos um salto. Dona Lourdez, mulher do seu Alejandro, o cocheiro, entrou sorrindo. Ela era uma mulher de meia idade muito bonita e bem cuidada. Estava sempre sorrindo e cantando.

- Menina Liv... – chamou ela com uma voz estranhamente rouca. Ela não estava usando tanta maquiagem como de costume e seus olhos pareciam fundos e sem vida. – Vim ver se você precisa de alguma coisa! – ela disse vindo até mim. Ela tentou sorrir para Carlinhos e ele retribuiu com um aceno de cabeça.

- Obrigada Lourdez! – eu disse quando ela me deu um abraço apertado – Eu vou ficar bem!

- Você tem certeza?! Eu posso preparar alguma coisa pra comer, ou pedir pro Alejandro preparar seu cavalo....

- Não! O Jonatan já preparou comida o suficiente para uma semana! E ainda não sei se vou  sair... – eu disse com um sorriso fraco.

- Eu não sei o que dizer! – ela disse arrumando seus cabelos crespos e volumosos. Suas pulseiras faziam quase uma música enquanto ela mexia nos cabelos. – É tão triste....

- Mas nós vamos ficar bem! – eu disse tentando segurar as lágrimas que queriam voltar aos meus olhos. Ela me abraçou por mais alguns segundos.

- Tem certeza de que não precisa de nada?! – ela perguntou me encarando preocupada. Eu consegui fazer que sim com a cabeça e enxugar as lágrimas que voltaram para meu rosto.

- Cuide bem dela Cá! – ela disse abraçando Carlinhos e saindo do quarto. Eu consegui rir em meio as lágrimas que encharcavam as mangas do meu vestido.

- O que foi?! – Carlinhos perguntou sorrindo.

                - Cá?! – eu repeti tentando fazer com que as lágrimas parassem. Ele riu e se aproximou alguns passos.

                - É muito difícil alguém me chamar por Carlos ou mesmo Carlinhos, como você! – ele disse ainda sorrindo.

                - É muito difícil alguém me chamar de Princesa também! – eu disse respirando fundo. Ele riu e pensou por alguns segundos.

                - Mas é o que você é! – ele disse me encarando.

                - Eu sei! – eu disse pensativa – então, eu deveria te chamar de Comandante.... é o que você é! – eu completei, ele fez uma careta. Acho que eu nunca havia ouvido ninguém chama-lo de Comandante.

                - Eu nunca fui pra uma guerra ou nada parecido.... – ele disse.

                - Mas ainda sim é o comandante das tropas do reino....

                - Tudo bem! Eu entendi! Como você prefere ser chamada? Olivia?!

                - Liv! – eu respondi. Ele ficou vermelho de repente. – O que foi?! – eu perguntei percebendo que ele havia ficado sem graça.

                - Nada! É que Liv parece um pouco intimo demais.... você é a princesa afinal de contas....

                - Todo mundo me chama de Liv! – eu disse me levantando. Fiquei feliz de perceber que eu ainda tinha algum controle sobre minhas pernas.

                - Eu sei, mas.... eu não sei se sou tão intimo assim pra você, a ponto de te chamar de... Liv! – ele disse sem me encarar. Eu ri.

                - Você foi intimo o suficiente pra tentar me beijar... – eu disse rindo. Ele ficou muito vermelho e muito sem graça.

                - Eu.... me desculpe! – ele disse me encarando de repente com seus olhos verdes.

                - Eu já disse que ta tudo bem! – eu respondi rindo. – Foi.... nós dois estamos abalados e confusos! E no final, não aconteceu nada demais! – eu continuei, mas ele ainda parecia preocupado. – Esquece isso...

                - Tudo bem! – ele respondeu após alguns segundos. - Mas você precisa comer!

                - Mais tarde, pode ser?! – eu perguntei calmamente, ele concordou, mas parecendo um pouco contrariado.

                - O que você quer fazer então?! – ele perguntou me encarando. – Se você ficar aqui.... naturalmente seus parentes que estão chegando para o funeral vão vir até aqui para te ver.... – ele disse olhando o jardim lá fora. Eu pensei por alguns segundos. Seus olhos encontraram os meus em busca de alguma resposta.

                - Eu não tinha pensado nisso! – eu respondi. Realmente não tinha pensado. Tudo o que menos queria agora era ter que enfrentar todas aquelas pessoas fingindo que sentem a morte do meu pai, ou enfrentar aqueles que realmente sentem, ficarem me contando suas histórias e lembrando dos momentos que passaram com meu pai.

                - Você quer ficar aqui?! – ele perguntou se aproximando. – A gente pode trancar as portas e fingir que não tem ninguém.... – ele disse com um sorriso fraco. Eu não havia percebido, mas pensar nessas pessoas me fez voltar a chorar. Eu fiz que não com a cabeça.

                - Será que a gente podia ir até a praia?! – eu perguntei quando ele enxugou as minhas lágrimas com a manga de sua camisa novamente.

                - Claro! – ele respondeu me abraçando. Era tão confortante sentir o calor do seu corpo, e seus braços ao meu redor.

                - Eu preciso trocar de roupa! – eu disse. Aquele vestido cheio de tecidos, e tules, e espartilhos, não era uma boa idéia para ir na praia. Além do mais, o dia estava abafado.

                - Enquanto você se troca, eu vou avisar seu irmão que vou ficar com você e passar na cozinha pegar algo pra você comer mais tarde! – ele disse soltando seu abraço e caminhando na direção da porta. Ele parou de repente, segurando o trinco e me encarou.

                - Eu vou ficar bem! Prometo! – eu disse antes que ele dissesse alguma coisa. Ele sorriu e saiu do quarto. Meu estomago afundou no momento em que a porta se fechou atrás dele. Eu me senti extremamente sozinha e não consegui segurar as lagrimas que jorravam pelos meus olhos. 


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Este é o primeiro Capítulo de uma das minhas histórias chamada "Céu do Amanhecer", espero que gostem! Assim ficarei feliz de postar o resto dos capítulos! ; )

Obrigada e até mais!



3 Comentários:

Blogger Rafaella de Oliveira disse...

Dudi, nossa eu li tudo, e achei tão bom! Gente você te um jeito de escrever, que faz viajar na história! OMG, adorei! De verdade, se os outros capítulos forem bons assim, mande para alguma editora *-*

24 de março de 2009 às 18:52  
Blogger Cah' Fletcher disse...

Catarina disse:
Oii ;) Bom, eu vi seu blog na comunidade de Twilight/Crepúsculo. Como adoro ler histórias e talz, fiquei curiosa e vim aqui. Resultado: Adorei o primeiro capitulo *-* Já prende o leitor..!;) Ah, e cê escreve muito bem. E caramba, fiquei pasma quando vi seu perfil..! Vc parece muito comigo HUIASHA. Também AMO ler/escrever não sei viver sem música e meu vicio é dançar na frente do espelho ;)
Enfim, continue a história, está otima *-* Beijos.! =*

25 de março de 2009 às 13:44  
Blogger Mistérios, Magias ou Milagres. disse...

Garota! Maravilhoso é isso mesmo.

9 de abril de 2009 às 19:08  

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