quarta-feira, 25 de março de 2009

CAPITULO II - O PASSEIO NA PRAIA

Não sei quanto tempo eu fiquei ali parada sentindo aquela dor terrível. Mas em algum momento eu me lembro de ter ido para o closet e tirado aquele vestido e colocado um vestidinho mais confortável. Sem muitos panos ou coisas me apertando. Quando eu sai do closet, Carlinhos já me esperava próximo a porta com uma cesta em uma das mãos.

                - O Jack ficou bravo de você ir comigo?! – eu perguntei. Jack e Carlinhos eram muito amigos, e eu entenderia se meu irmão ficasse chateado se seu melhor amigo não estivesse ao seu lado num momento como esse. Carlinhos sorriu.

                - Não! Claro que não! Ele está preocupado com você! E achou muito boa a idéia eu ser sua babá! – ele disse ainda sorrindo.

                - E você não se importa?! O Jack também precisa de alguém.... e você é o melhor amigo dele!

                - Não se preocupe! Ele está melhor agora! E ele tem Amelie!  – Carlinhos disse tranquilamente.

                - Então vamos! – eu disse querendo sair logo, antes que alguém me visse. Se isso acontecesse, seria impossível sair do castelo. Pois assim que um fosse embora, já teria outra pessoa para falar comigo, e isso duraria até amanhã. Carlinhos já havia avisado Alejandro, e por isso, assim que chegamos nos jardins do castelo, dois cavalos já estavam a nossa espera. Cavalgamos até a praia ouvindo somente os cascos dos cavalos baterem nas pedras da estrada.

                Na praia, eu caminhei até algumas pedras. Eu, meu pai e Jack costumávamos pescar naquelas pedras no verão. Colocávamos os pés dentro da água, quando a maré estava alta, e passávamos a tarde toda ali, pescando e conversando sobre qualquer coisa. Eu me sentei e coloquei os pés na água, como costumava fazer. O mar estava um pouco mais agitado do que de costume. Carlinhos pareceu preocupado comigo ali tão perto daquelas pedras onde as ondas quebravam com força.

                - Tenha cuidado princesa! – pediu ele me observando de longe.

                - Liv! – eu corrigi sem olhar pra ele.

                - Liv! – concordou ele rindo. Ele caminhou até mim e colocou a cesta de comida ao meu lado. – Jonatan pediu pra dizer que se a cesta voltar com qualquer coisa dentro, ele vai ficar muito chateado! – acrescentou ele. Eu dei uma olhada dentro da cesta.

                - Tem comida pra um batalhão aqui! – eu disse pegando um pêssego. - O que você vai querer?

                - Nada! Obrigado! – ele disse se afastando alguns passos, já que uma onda havia quebrado e espirrado água para todos os lados.

                - Você vai precisar me ajudar com essa cesta! – eu disse mordendo o pêssego. Ele sorriu.

                - Mais tarde, eu prometo! – ele disse se sentando mais afastado de onde eu estava. Nós permanecemos em silêncio por algum tempo. As horas iam se arrastando. Meu pensamento ficava quase o tempo todo no meu pai e no que havia acontecido. Às vezes eu me lembrava de comer alguma coisa. Carlinhos ficou ali em silêncio o tempo todo, e quase me esqueci que ele estava ali. Só me lembrei quando ele se abaixou próximo a cesta e pegou algumas bananas. Nós nos encaramos por alguns segundos. Ele enxugou o resto das lágrimas que ainda molhavam meu rosto.

                - Com frio?! – ele perguntou me encarando com seus olhos verdes. Eu o observei descascar e comer duas bananas. Ele me encarou novamente procurando por uma resposta.

                - Um pouco, eu acho! – eu respondi sentindo minha pele gelada graças aos respingos do mar e as correntes de ar que circulavam ali. Ele descascou mais uma banana, se levantou e caminhou calmamente até onde estavam os cavalos. Algum tempo depois ele voltou com um casaco.

                - Acho que vai ficar um pouco grande! – ele disse me ajudando a vestir. Eu o encarei por mais alguns segundos, mas ele estava distraído olhando na direção do horizonte.

                - Obrigada! – eu agradeci quando ele se abaixou novamente ficando ao meu lado. Eu não havia reparado que nós havíamos crescido. Nós nos conhecemos quando eu ainda era uma menina. E ele um garota magrelo e desengonçado. E agora ele havia se tornado um homem, seus olhos continuavam sendo daquele menino.

                - Daqui a pouco vai começar a escurecer... – ele disse pegando mais alguns biscoitos e voltando seus olhos para mim, eu o encarei sorrindo, era tão fácil estar junto dele. Eu não precisava fingir ser uma verdadeira princesa, toda educada e cheia de jóias, vestidos e maquiagem. Afinal ele me já havia me visto vestindo os piores trajes durante nossas aulas de duelos.

                - Você acha melhor voltarmos?! – eu perguntei fechando os olhos e sentindo a brisa passar pelo meu cabelo.

                - Eu fico o tempo que você precisar! – ele disse ajeitando uma pequena mecha de cabelo que ficou presa na minha boca.

                - Você vai acabar me deixando mal acostumada assim! – eu disse abrindo meus olhos e enfrentando seus olhos verdes. Ele sorriu.

                - Aproveite! Porque é só enquanto durar meu posto de babá! – ele disse com uma piscadela e nós dois rimos. – Você está melhor?! – ele perguntou preocupado. A pergunta me atingiu de uma forma inesperada. Quando ele estava por perto, eu me sentia melhor. Mas pensar que eu nunca mais veria meu pai ainda me fazia ficar sem ar. Meu estomago se embolou e eu senti meu coração apertar dentro do meu peito.

                - Não! Mas vou ficar! – eu disse tentando forçar um sorriso. Carlinhos sorriu e afastou os cabelos rebeldes que estavam no meu rosto por causa do vento.

- Eu sei como é difícil perder o pai! – ele disse olhando para as ondas que agora batiam ainda com mais força nas pedras. – Eu não era tão próximo do meu pai como você era do Rei, mas, meu pai era meu ídolo! – ele continuou voltando seu olhar de repente para mim e sorrindo.

- Quantos anos você tinha?! – eu perguntei. Eu não sabia muita coisa sobre o pai de Carlinhos. Na verdade a única coisa que eu sabia é que ele tinha sido um dos melhores piratas da época. Eu sabia sobre sua mãe. Ela era doceira. Mas tinha uma doença rara e morreu quando ele tinha uns 6 anos. O pai dele, Tiago Tach, o tal pirata, ainda era vivo, mas não queria que o filho se envolvesse com pirataria também, e pediu pra um ferreiro, muito amigo, ficar com Carlinhos.

- Quando meu pai morreu, eu tinha 16! – ele respondeu se sentando ao meu lado. – Fizeram uma tocaia pra ele! Mataram ele e uma parte da tripulação e ainda ficaram com o barco!

- Mas.... você tinha contato com seu pai?! – eu perguntei curiosa. Piratas não eram muito preocupados com os filhos que eles espalhavam pelo mundo. Carlinhos sorriu para mim.

- Claro! Ele sempre vinha nos ver! Sabe? Eu e.... eu e o Willian! – ele respondeu. Willian Tach era irmão de Carlinhos e havia seguido o caminho do pai, mas essa ainda é uma outra história.

- Você nunca quis seguir o caminho do seu pai? Assim como o Will?! – eu perguntei. Carlinhos me deu um sorriso sarcástico e mordeu os lábios em seguida.

- Desde criança eu quis ser como meu pai! – ele disse desviando seu olhar para longe. – Assim que ele morreu, eu e Willian tentamos.... mas eu já estava treinando pra entrar no exercito e seu Xavier, o ferreiro que me criou, me convenceu de que aquilo não era o que meu pai queria pra mim! E tinham outras coisas que me prendiam ao reino também!

- Tipo o que?! – eu perguntei. Ele pensou por alguns segundos. Já estava começando a escurecer, e estava começando a ficar difícil olhar para ele, por causa da falta de luz.

- Eu e Jack já éramos amigos! E todas as pessoas que eu conhecia.... – ele disse calmamente.

- Uma vez, eu encontrei com um pirata! – eu disse sorrindo – e ele disse que para ser um deles, você já tem que nascer como um e que não adianta você fugir! Aquele é seu destino! -Carlinhos sorriu e balançou a cabeça.

                - Talvez! Mas se você tiver algo mais forte que te prenda em terra, quem sabe?! – ele perguntou. Eu dei com os ombros. Mas a verdade, é que por mim, eu largaria tudo, o castelo, roupas e todos os empregados, para viver no mar. Navegar era uma das coisas que eu mais gostava de fazer e eu até que era boa. Eu podia não ser muito forte, mas eu sabia ler mapas e sabia operar o leme muito melhor que muitos marmanjos. Eu não me dei conta, mas o tempo parece ter passado muito rápido, pois já estava muito escuro e nós dois ainda estávamos ali, naquela mesma posição.

                - Acho melhor irmos embora! – eu disse me sentindo cansada. Na verdade, parecia que eu havia treinado o dia todo. Meu corpo estava todo dolorido e minha cabeça estava pesada.

                - Como quiser! – disse Carlinhos me ajudando a levantar. Nós começamos a caminhar em silêncio.

                - Espero que todos já tenham ido embora e que tudo tenha acabado! – eu disse montando em meu cavalo. Ele me encarou no escuro, mas eu pude notar que ele sorriu.

                - Acho difícil! Mas qualquer coisa você poderia fingir que está dormindo! Eu digo que você deveria estar cansada e que é melhor não ser incomodada! – ele sugeriu.

                - Faz sentido! – eu respondi – Mas a verdade é que vai ser difícil dormir esta noite! – eu desabafei.

                - Por que?! – ele perguntou. Eu não podia ver seu rosto, mas podia adivinhar que ele estava me encarando com aqueles olhos verdes no meio da escuridão daquela noite sem lua, no meio da trilha que levava da praia até o  castelo.

                - Sei que parece bobagem! – eu comecei tentando rir da minha própria infantilidade. – Por mais que eu e o papai não ficássemos juntos o tempo todo, hoje, tem horas que eu me sinto tão sozinha!        

- Vai passar! – ele disse encostando seu cavalo ao lado do meu. – E se você quiser eu posso pedir pra alguém, Janice ou outra pessoa pra ficar com você até você dormir....

                - Claro! A princesinha mimada que tem medo de dormir sozinha.... – eu debochei. Eu sabia que se ele pedisse, Janice, ou qualquer outra pessoa atenderiam seu pedido, mas eu sabia como deveria ser ruim ficar assistindo outra pessoa dormir e no meu caso, era por pura frescura!

                - Se você fizesse isso todos os dias, eu diria que você é a princesinha mimada! Mas hoje, você tem seus motivos....

                - Mesmo assim! Todos devem estar cansados e tristes! Eu me sentiria ainda pior se alguém deixasse de dormir pra ficar ali, por causa de uma frescura! – eu disse. Talvez eu até conseguisse dormir, já que eu estava cansada, mas era terrível me sentir sozinha. As luzes do castelo já estavam próximas. Carlinhos parou seu cavalo e me encarou.

                - Pelo jeito ainda tem bastante gente por ai! – ele disse. Eu podia ver seus olhos brilharem em direção as luzes do castelo. Eu gemi. Tudo o que eu menos precisava era enfrentar todas aquelas pessoas.

                - Ótimo! – eu exclamei ironicamente.

                - Vem pra cá! – ele disse. Eu o encarei confusa. – Monta aqui comigo, e você finge que está dormindo, lembra?!

                - Ah! É mesmo! – eu me lembrei. Eu estava tão cansada que minha cabeça estava começando a esquecer algumas coisas, eu acho. Eu desci do meu cavalo, e passei as rédeas pra ele, e subi a sua frente. Ele puxou o cavalo que eu estava mais pra perto, para que ele pudesse controlar os dois ao mesmo tempo.

                - Você se importa se eu... – ele disse passando seu braço direito ao redor da minha cintura.

                - Não, tudo bem!- eu disse sentindo seu braço quente e forte me segurar. Nós cavalgamos até a entrada do castelo em silêncio.

                - Agora você pode dormir.... – ele disse quando avistamos algumas pessoas entre a capela e a escadaria do castelo. Eu deitei a cabeça em seu ombro, fechei os olhos, e ele se ajeitou para que eu ficasse mais confortável. Ele continuou calmamente o caminho até que as vozes se tornaram muito próximas. Algumas delas eu não reconheci, mas a voz de Jack era nítida, e parecia triste e cansada. Carlinhos parou de repente.

                - Como ela está?! – a voz de Jack perguntou urgente.

                - Um pouco melhor, eu acho! – respondeu Carlinhos sussurrando. Eu não abri os olhos, mas podia dizer que haviam muitas pessoas ali.

                - Vocês vão ficar bem Jack! – disse a voz estridente de uma mulher que eu soube dizer quem era. Parecia uma das nossas tias avós que viviam insistindo para que eu fosse morar com elas, para eu ter uma figura feminina em quem me espelhar.

                - Obrigada Muriel! – meu irmão respondeu. Sim, tia Muriel, morava num reino ao norte, bem afastado. O castelo em que ela viva era extremamente gelado e cheirava mofo. Eu ouvi seus sapatos se afastarem e Carlinhos puxar o cavalo, se afastando das vozes.

                - Amanhã vou ter que conversar com ela! – disse a voz de Jack após alguns segundos parecendo ainda mais preocupado e quase num sussurro.  – E com você...

                - Aconteceu alguma coisa?! – Carlinhos perguntou sério. Jack não disse nada, mas imagino que ele deve ter respondido. – Sobre?! – Carlinhos perguntou de repente, sua voz parecia muito preocupada.

                - Os Alcântaras estão aqui! – Jack respondeu. Carlinhos respirou fundo. Ângelo e Patrícia Alcântara eram parentes distantes do meu pai. Tinham três filhos, Gustavo, Gabriel e Augusto. Eles eram muito ricos e ainda eram os tipos de pessoas que acham que os nobres só deveriam se casar com os nobres.

                - Mas eles vieram só pro funeral? – Carlinhos perguntou. Mas uma vez eu não ouvi a resposta de Jack, mas senti os músculos de Carlinhos se enrijecerem ao meu redor. Ele bufou. – Eles não podiam esperar? Este não é o momento...

                - Cacá! – disse meu irmão – Nós sabíamos que logo eles viriam pra isso! Eles só aproveitaram a oportunidade! Tenha calma....

                - Calma?! – Carlinhos perguntou. Eu achei que devia ter perdido algo, já que não estava entendendo muito da conversa dos dois.

                - Amanhã conversaremos sobre isso! – disse Jack acariciando minha mão, eu ouvi passos se aproximarem. Carlinhos respirou fundo.

                - E ela? Como está?! – perguntou a voz de Alejandro, ele também parecia cansado. O dia devia ter sido longo para todos eles que ficaram aqui no castelo recepcionando todos os nossos parentes e alguns amigos da família. Carlinhos me passou cuidadosamente para os braços de alguém que eu imaginei ser meu irmão.

                - Minha irmã é dura na queda! Ela vai ficar bem! – disse a voz de Jack sobre a minha cabeça, ele beijou minha testa. Eu ouvi os cascos dos cavalos se afastarem e a respiração de Carlinhos se aproximar de Jack.

                - E você? Como você está?! – perguntou a voz de Carlinhos ainda um pouco tensa. Jack respirou fundo antes de responder.

                - Não sei ainda! – ele respondeu. Sua voz parecia ainda mais cansada agora. – O velho vai fazer muita falta....

                - Você precisa descansar! – disse Carlinhos sério. Jack riu.

                - Quem sabe daqui alguns dias?! – respondeu Jack ironicamente. – Depois da coroação...

                - Precisa de ajuda?! – a voz de Carlinhos perguntou ainda muito tensa. Jack riu.

                - Por enquanto só quero que você cuide da Liv! – disse Jack ainda rindo. Eu podia ouvir a respiração nervosa de Carlinhos. – E já pedi pra você ter calma! Não adianta ficar ai bufando feito um touro! Isso não vai resolver nada!

                - Tudo bem! Eu vou tentar! – disse Carlinhos quando algumas vozes ficavam mais próximas. – Mas é que não dá pra acreditar! Eles podiam esperar alguns meses! A Liv não está em condi... Deixa pra lá! – disse Carlinhos tentando se acalmar. – E a Amelie?!

                - Eu disse pra ela ir descansar! – disse a voz de Jack. – Ela viajou quase a manhã inteira e quando chegou não saiu do meu lado! Eu nunca imaginei que ela fosse sentir tanto a morte do meu pai...

                - Ela gostava muito dele também! Afinal, foi ele quem a encontrou pra você! – disse Carlinhos. Em uma de nossas viagens, meu pai encontrou um pequeno reino que ficava ao leste, não era muito longe, só ficava meio escondido por um grande encosta de pedras. Neste reino ele encontrou Amelie! No momento em que ele colocou os olhos na princesa de olhos verdes e cabelos laranjas, ele cochichou no meu ouvido “Ela é perfeita para seu irmão”, e ele estava certo! Jack e Amelie se apaixonaram logo que se viram. Eles estavam de casamento marcado para daqui alguns meses.

- Eu preciso ir! Ainda tem muita gente por aqui! – disse Jack. – Leve-a pro quarto! – continuou ele me passando de volta para os braços de Carlinhos e dando um beijo no meu rosto. Carlinhos começou a caminhar. As vozes foram ficando cada vez mais longes e o caminho foi se tornando silencioso. Eu ouvi várias portas abrindo e fechando. Mas imaginei que Carlinhos iria me dizer quando era seguro acabar com a farsa. E me assustei quando ele me colocou cuidadosamente em uma superfície macia. Eu abri os olhos e já estava na minha cama.

                - Você não precisava ter me trazido até aqui! – eu disse me sentando na cama. Ele já havia se afastado de mim, e agora olhava pela janela.

                - Eu achei que você estava dormindo de verdade! – ele respondeu muito sério me encarando com seus olhos verdes por alguns segundos.

                - Eu disse que seria difícil! – eu respondi o encarando. Aquela conversa com Jack havia o deixado preocupado . Ele parecia pensativo demais.

                - Eu fico aqui até você dormir! – ele disse se sentando no beiral da janela. Ele desviou seu olhar rapidamente, como se eu pudesse ler seus pensamentos através de seus olhos.

                - Aconteceu alguma coisa?! – eu perguntei. Ele evitou me olhar e balançou negativamente a cabeça. – Eu não entendi sobre o que você e o Jack falavam sobre os Alcântaras....

                - Seu irmão prefere conversar sobre isso amanhã! – disse ele secamente. Eu esperei para que ele me dissesse mais alguma coisa, mas ele continuou ali, perdido em seus pensamentos.

                - Mas você sabe sobre o que é?! – eu perguntei me levantando e me aproximando dele. Ele finalmente me encarou, mas continuou em silêncio. Eu procurei uma resposta em seus olhos, mas ele fechou os olhos e encostou a cabeça na parede fria de pedra.

                - Amanhã Princesa! – ele disse naquela mesma posição. – Você precisa dormir! – eu abri a boca para falar. Eu odiava quando as pessoas me escondiam alguma coisa. Ele me encarou muito sério de repente.     

                - Eu vou tomar um banho! – eu respondi com ódio virando as costas. Ele não se moveu dali. O banho foi uma das partes mais difíceis do meu dia. Eu chorei pela morte do meu pai, pela confusão que estava minha cabeça, da raiva que eu estava de Carlinhos agora. Eu preferia mil vezes ter ido junto com meu pai e afundado com a droga daquele navio do que estar me sentindo daquele jeito. Minha cabeça estava ainda mais pesada agora. Eu voltei para o quarto e encontrei Carlinhos na mesma posição na janela. Ele só virou a cabeça pra me encarar mas não disse nada. Eu andei calmamente até ele secando meu cabelo e tentando controlar minha raiva.

                - Você não precisa ficar aqui esperando eu dormir.... – eu disse mal humorada. Eu preferia ficar sozinha do que agüentar essa versão preocupada e silenciosa de Carlinhos.

                - Você gosta dos Alcântaras? – ele perguntou sério, ignorando o que havia dito. Eu demorei alguns segundos para entender sua pergunta.

                - Sim! Eles são bem legais! Um pouco conservadores, mas legais! – eu respondi tentando entender o que ele pretendia.

                - Os garotos?! – ele perguntou me encarando. Eu o encarei confusa, mas ele não disse nada, apena esperou minha resposta.

                - Eles são ótimos! Educados... bonitos... – eu disse. Carlinhos desviou seu olhar e riu sarcasticamente. – O que está acontecendo?! – eu perguntei. Ele voltou seu olhar para mim e sorriu.

                - Nada Princesa! – ele disse se aproximando e parando ao meu lado. – Boa Noite! Você prefere que eu chame alguém pra ficar com você?!

- Não! – eu respondi distraída, tentando revisar toda a conversa entre ele e meu irmão, e tentar entender o que eu estava perdendo.

- Então, boa noite! Qualquer coisa, pode mandar me chamar... – ele disse se afastando, mas eu o segurei a tempo. Ele olhou para minha mão que o segurava assustado.

                - Pare de agir como se eu fosse uma criança! – eu pedi soltando seu braço. Ele me encarou por alguns segundos e me abraçou.

                - Eu sei que você não é uma criança! Mas eu prefiro que seu irmão converse com você amanhã! – ele disse. – Me desculpe ter agido assim com você! – ele disse beijando minha testa.

- Eu só queria saber o que está acontecendo.... – eu disse o encarando. Ele respirou fundo e acariciou meu rosto com seu polegar.

- Você já tem coisas demais na sua cabeça! – ele disse calmamente. Seus olhos estavam tristes novamente, mas ele tentou sorrir pra mim, e me soltou, mas eu segurei sua mão. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Ele caminhou lentamente até a porta, eu estava distraída que deixei ele se afastar, nossas mãos se soltaram. Mas ele parou de repente me encarando, próximo a porta. – Você quer que eu chame alguém pra ficar com você? – ele perguntou novamente com um sorriso fraco. Eu caminhei até ele em silêncio.

                - Não! Não precisa! – eu respondi ainda muito confusa. Ele acariciou meu rosto com seu polegar mais uma vez e antes que eu pudesse o encarar eu senti seus lábios quentes e úmidos tocarem os meus. Ele me puxou mais pra perto e eu passei meus braços ao redor do seu pescoço. Toda a dor que eu sentia parecia ter desaparecido, e eu percebi que eu devia estar com frio antes, pois agora eu me sentia tão aquecida e protegida. Mas segundos depois Carlinhos se afastou, e foi como se tivessem me tirado de uma lareira quente e confortável e me jogado direto em cima de um iceberg no meio do nada. Ele não me encarou. Apenas fechou os olhos com força e respirou fundo algumas vezes.

                - Me desculpa Princesa! Eu preciso ir! – ele disse desaparecendo quase no mesmo momento pela porta. Eu fiquei ali imóvel, sem saber o que fazer, o que pensar ou o que sentir. Minha cabeça estava muito pesada e meu corpo parecia dormente. Eu me joguei na cama e chorei. 

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