quarta-feira, 25 de março de 2009

CAPITULO III- PLANEJANDO A VINGANÇA

CAPÍTULO III

PLANEJANDO A VINGANÇA

 

A próxima coisa que me dei conta é que já havia amanhecido. Janice entrou no quarto e me viu jogada na cama naquele estado. Eu devia estar horrível pelo modo como ela me encarou.

                - Ah! Liv querida! Como você está?! – ela perguntou vindo até a cama. Por alguns instantes, eu achei que tudo não passara de um sonho estranho e confuso. Eu esperei alguns instantes para que ela dissesse alguma coisa que me dessem certeza de que o dia anterior não havia existido. Mas ela ficou ali, em pé me encarando e esperando a resposta.

                - Bem! – eu respondi, mas minha voz não saiu. Eu tentei me levantar e senti como se minha cabeça pesasse toneladas. Então continuei deitada, olhando para o teto.

                - Vamos! Levante! Seu irmão está esperando pra te ver! – ela disse carinhosamente. Eu me levantei e fui direto para o banheiro. Eu estava horrível! Meus olhos pareciam olhos de sapo, vermelhos e inchados. Não! O dia de ontem não foi um sonho! Meu estomago foi parar nos meus pés! E meus olhos começaram a lacrimejar involuntariamente. Eu tentei respirar fundo, eu sabia que tinha que ser forte agora, mas ainda era muito difícil.

 Janice veio com duas compressas de água quente, que segundo ela ajudavam a diminuir o inchaço dos meus olhos. Jô chegou com um dos seus carrinhos recheados de comida. Eu me forcei a comer algumas torradas e tomar um pouco de suco.

                - Você sabe se os Alcântaras ainda estão aqui?! – eu perguntei para Janice quando tirei as compressas. Meus olhos estavam realmente menos inchados.

                - Estão! – respondeu ela vindo com alguns vestidos do closet. – Eles e mais algumas outras famílias! – ela respondeu me encarando desconfiada. Eu revirei os olhos.

                -Por que?! – ela perguntou curiosa. Talvez ela soubesse de alguma coisa e me contasse! Ela sempre me contava tudo o que sabia!

                - Nada! Você sabe sobre o que eles conversaram com o Jack ontem?! – eu perguntei a encarando. Mas ela deu com os ombros e balançou a cabeça.

                - Imaginei que eles quisessem ajudar, ou algo assim! Seu irmão e o Conde Ângelo ficaram um bom tempo no escritório ontem, mas eu não faço nem idéia do que eles estavam conversando.

                - Que droga! – eu exclamei baixinho.

                - Imagino como deve ser estranho isso Liv! Mas acho que seu irmão vai dar um jeito de te manter longe de tudo isso, até você se sentir melhor! – ela disse colocando os vestidos sobre a cama para que eu escolhesse, todos eram praticamente iguais! Só mudavam as cores, mas todos eram cheios de babados e saiotes.

                - Coitado do Jack! Eu estou sendo tão egoísta! Ele enfrentou tudo sozinho ontem....– eu disse encarando Janice. Ela sorriu.

- Não é egoísmo Liv! – disse Janice sorrindo e esperando que eu escolhesse algum dos vestidos. – E ele quer te proteger!

- É egoísmo! Eu estou sendo egoísta! Eu deveria ter ficado ao lado dele...– eu repeti a encarando séria, mas ela riu.

- Você está diferente hoje! – ela disse me encarando sorrindo.

- Por que?! – eu perguntei confusa, comendo alguns biscoitos.

- Ontem... você estava pálida, seus olhos estavam sem brilho! Hoje sua pele está mais bonita, você ainda parece triste, claro! Mas seus olhos estão com um brilho diferente.

- Diferente como?! – eu perguntei normalmente.

- Não sei! Você parece melhor agora! Parece até que tá apaixnada... – ela disse rindo. Eu arregalei os olhos. Acho que a morte do papai havia mexido com o cérebro dela!

- De onde você tira essas idéias? – eu perguntei incrédula. – Apaixonada Janice?! – eu perguntei muito séria. – Meu pai...

- Só to falando o que parece! – ela me interrompeu sorrindo, eu revirei os olhos. – Seus olhos estão brilhantes iguais os da sua mãe quando olhava para seu pai....

- Por quem eu ia me apaixonar?! Ainda mais agora... – eu disse revirando os olhos, mas senti meu estomago afundar quando o rosto de Carlinhos apareceu na minha mente. Janice riu da cara que eu devo ter feito. Ontem foi tudo tão estranho! Eu ainda não sabia se era minha imaginação, sono, cansaço ou se eu estava tendo alucinações...

- O que foi?! – Janice perguntou. Eu não respondi e ela continuou me olhando. Alguém bateu na porta. Janice abriu sem dizer nada. Carlinhos entrou e me encarou por poucos segundos, meu coração acelerou e eu achei que tinha parado de respirar. Ele desviou seu olhar para seus próprios pés.

- Jack quer falar com você! – ele disse ainda de cabeça baixa. Eu peguei o vestido mais confortável que estava na cama, sem o encarar, e fui me vestir sem dizer uma única palavra. Minha cabeça estava a mil. Apaixonada? O que era aquilo que tinha acontecido ontem? Acho que a morte do meu pai estava me deixando louca! A hora que eu voltei, Carlinhos já tinha ido embora. Janice correu pra me ajudar com meu cabelo, mas eu já havia dado um jeito nele.

- Aconteceu alguma coisa entre vocês?! – ela adivinhou quando eu já ia saindo do quarto.

- Eu não sei! – eu respondi saindo do quarto pensativa. Eu caminhei em silêncio pelos corredores do castelo tentando afastar todos os pensamentos da minha cabeça, fossem eles sobre a morte do meu pai ou sobre Carlinhos.

Eu parei diante da gigantesca porta da sala de reuniões. Eu não sabia se estava pronta para encontrar meu irmão! Eu brinquei com os detalhes dourados da porta branca. Encontrar Jack agora, ouvir tudo o que ele tinha pra me dizer, seria realmente aceitar a morte do meu pai. Eu não queria isso. Ainda não. Eu virei de costas e comecei o caminho de volta para o meu quarto.

Então eu parei novamente. Eu não podia fazer aquilo! Jack precisava de mim! Era difícil pra nós dois! Eu caminhei apressada sem nem respirar e entrei na sala de reuniões de uma vez. E congelei! Jack e Carlinhos conversavam sobre a coroação. Eu não esperava encontrar com Carlinhos! É claro que ele estaria lá, com Jack, mas eu simplesmente não havia pensado nisso. Minha respiração falhou algumas vezes, e então eu encarei Jack. Ele parecia mais adulto, mais responsável, eu tinha certeza que meu pai sentiria orgulho dele. Ele parecia um pouco cansado, seus olhos castanhos estavam fundos e a barba por fazer, e seu cabelo escuro e liso estava todo bagunçado, mas eu sorri pois sabia que ele iria fazer um trabalho tão bom quanto ao do papai.

- Você está bem? - perguntou ele vindo me abraçar assim que fechei a porta. Em outras épocas eu iria tomar uma bronca por entrar sem bater! Mas hoje nós dois precisávamos um do outro. Tive forças apenas para responder que sim com a cabeça e o abracei, meus olhos se cruzaram com o de Carlinhos, que tentou me confortar com um sorriso.

- Vou ficar bem! - disse eu enxugando algumas lagrimas que corriam em meu rosto após nosso abraço.

- Vamos ficar bem! - disse Jack pegando minha mão. Ele era um irmão e tanto. Nós nos encaramos por alguns segundos. – Eu sinto muito não ter visto você ontem! Ia ser demais pra mim, e eu precisava ficar no funeral...

- Tudo bem Jack! – eu disse com um sorriso fraco. – Eu é que devia ter ficado com você! – eu disse o encarando, ele me abraçou novamente, e eu comecei a soluçar, como ontem.

- Calma Liv! Eu to aqui maninha! – ele disse calmamente. – Vai ficar tudo bem!

- É que.... ele vai fazer tanta falta! – eu consegui dizer. Jack me encarou e limpou meu rosto.

- Eu sei! – ele disse me colocando sentada e se ajoelhando a minha frente. – Mas você é a pessoa mais forte que eu conheço Liv!

- Bobo! – eu exclamei sorrindo, ele sorriu de volta.

- É sério! – ele disse se levantando.

- E a coroação?! – eu perguntei mudando o assunto, tentando me acalmar. Ele levantou as sobrancelhas.

- Quase tudo preparado, eu acho! Acho que vamos marcar a cerimônia pra daqui 3 ou 4 dias! – ele disse sério.

- Já?! – eu perguntei. Eu imaginava que essas coisas demoravam semanas. Jack sorriu. Mas de repente ele ficou sério me observando desconfiado. Ele mordeu o canto do seu lábio.

- O papai tinha deixado tudo meio preparado parece! – ele disse me olhando nos olhos, ele ainda parecia desconfiado.

- Você acha que ele sabia?! – eu perguntei. Jack me olhou ainda mais sério, ele respirou fundo e se sentou apoiando-se na mesa a minha frente. Ele pensou por alguns segundos.

- Sinceramente Liv, eu não sei! Ele insistiu pra que você ficasse, o que já é muito incomum! E eu juro, estava tudo pronto pra minha coroação praticamente! Documentos assinados, testamentos.... – eu e Jack nos encaramos por algum tempo. – Ele não te disse nada? – ele perguntou finalmente, então era isso que ele estava desconfiado!

- Não! – eu respondi rapidamente. Eu e meu pai conversávamos muito, mas ele nunca havia me dito nada sobre.... morrer! – Ele me deu alguns presentes antes de ir! Jóias e vestidos, mas achei que era porque ele estava se sentindo culpado, de eu estar chateada por ele ter me deixado de fora! E ele nem me disse onde estava indo, o que torna tudo ainda mais estranho. Eu achei que fosse medo de eu tentar ir atrás dele.

- Esquece isso vai Liv! – disse Jack de repente. – Não vale a pena! Nunca vamos saber a verdade!

- Eu sei! – eu respondi desanimada. Nós ficamos em silêncio por um tempo. Jack mexeu em alguns papéis da mesa e encarou Carlinhos de repente. Carlinhos se moveu em sua cadeira e olhou para longe.

- Liv! – Jack disse de repente, ainda encarando Carlinhos – Tem outra coisa sobre a qual precisamos conversar! – ele disse se virando lentamente para mim.

- Pode falar... – eu disse tentando descobrir o que eles escondiam de mim.

- Você já deve saber que a família Alcântara ainda esta aqui! – ele disse me encarando. Eu fitei Carlinhos por alguns segundos e me voltei para Jack novamente.

- Sim! Ouvi comentários... – eu respondi.

- Já faz algum tempo que eles vem se correspondendo com o papai, e ontem, durante o funeral, Ângelo me procurou.... eles estão muito preocupados com você! – ele disse me encarando. Eu dei com os ombros.

- Por quê?! – perguntei sem entender.

- Eles acham que com a morte do papai, você precisa de uma outra pessoa que cuide de você! – ele disse passando seus olhos por Carlinhos. Eu sorri.

- E por isso que você está aqui! – eu disse com uma piscadela pra Jack, mas ele não sorriu.

- Eles acham que você precisa se casar! – ele disse de uma vez. Eu demorei alguns segundos pra entender e então eu ri.

- Casar?! – eu perguntei ainda rindo.

- Como eu disse, eles já estavam discutindo esta hipótese com o papai há algum tempo. Mas, pelo que eu entendi, o papai queria que você tomasse esta decisão por você mesma....

- Mas Casar?! Eles acham que casar vai fazer bem pra mim?! – eu perguntei tentando entender esta lógica sem pé nem cabeça.

- Eu concordo! –disse Jack sério. Eu o encarei incrédula. Traída pelo próprio irmão! Acho que definitivamente eu ainda não havia acordado daquele sonho. E agora estava ficando ainda mais estranho. Jack e Carlinhos me encaravam, esperando que eu dissesse algo.

- Você é mais velho que eu... – eu protestei. Foi a única coisa que eu consegui pensar. Jack era mais velho e não era casado....AINDA!

- Estou noivo! – ele disse mostrando o grande anel dourado em seu dedo. – E você sabe... mulheres casam muito mais cedo do que os homens! A Amelie tem a sua idade...

- O que você propõe?! – eu perguntei irritada. E a Amelie era mais velha que eu, meses, mas mesmo assim, mais velha!

- Eu?! – Jack perguntou sorrindo. – Nada! Ângelo só pediu sua mão em casamento! E eu disse que era sua a decisão! Eu concordo com o papai, é você que deve decidir....

- Com qual dos três filhos ele quer que eu me case?! – eu perguntei irritada. Jack sorriu e deu com os ombros.

- Ele disse que você podia escolher! – respondeu ele mal conseguindo segurar o riso. Eu não consegui me conter. Isso era ridículo.

- Você quer que eu me case com um deles?! – eu perguntei quando a porta se abriu. Alejandro apareceu por ela, e acenou com a cabeça e pedindo que Jack fosse falar com ele.

- Eu?! – perguntou Jack ainda rindo e indo até Alejandro. – É você quem sabe! Eu só acho que está na hora de você parar de dizer não aos seus pretendentes e encontrar alguém que te faça feliz!

- Eu sou feliz! Eu vou conseguir superar a morte do papai, sem me casar com um dos Alcantaras....– eu protestei quando Jack e Alejandro cochichavam.

- Volto daqui alguns minutos! – disse Jack me ignorando e saindo com Alejandro. Carlinhos me encarou sério por alguns segundos.

- Era isso então?! – eu perguntei séria pra ele. Carlinhos respirou fundo e então me encarou. Ele parecia um pouco mais calmo que ontem.

- Eu me preocupo com você! E não quero que você passe o resto da vida com alguém que você nem conhece bem! Mas se você achar que é melhor, então.... – ele disse sério, me encarando.

- Do jeito que você estava agindo, eu achei que era o fim do mundo! – eu disse sorrindo e revirando os olhos. Carlinhos continuou sério. Ele pensou por alguns segundos e respirou fundo.

- Se você aceitar, vai ser o fim do mundo! – ele disse ainda me encarando – Pelo menos pra mim! – completou ele. Eu pisquei algumas vezes, tentando entender o que era aquilo.

- Por quê?! – eu perguntei fitando meus próprios pés.

- Para de se fazer de boba Liv! O reino inteiro sabe que eu sou apaixonado por você! – ele explodiu. Eu respirei fundo. Era uma declaração um pouco rude, nada de flores ou ele ajoelhado a minha frente, mas mesmo assim era uma declaração. Uma declaração que pegou um pouco desprevenida. Não vou dizer que eu não sabia, mas a verdade é que era uma coisa pela qual eu nunca havia pensado sobre.

- E por que você não me pede em casamento?! – eu perguntei em voz baixa. Nossos olhos se cruzaram por alguns instantes e então ele riu ironicamente.

- Não agora Liv! Agora não é o momento pra isso! Eu não vou fazer como eles e me aproveitar da sua fragilidade! – ele disse ficando sério, eu o encarei confusa.

- É diferente! – eu tentei escolher as palavras – Eu e você..

 – Você está dizendo isso porque está fragilizada com a morte do seu pai! – ele me interrompeu impaciente, parecendo não querer ouvir o que eu tinha a dizer. -E fui eu quem te ofereceu proteção! Se um dia eu for te pedir em casamento, quero ter certeza de que você vai aceitar porque realmente acredita na gente!

- Você é tão cabeça dura! – eu exclamei revirando os lhos. É claro que eu me casaria com ele! E claro que eu realmente achava que nós podíamos dar certo. Ele me encarou sério por alguns segundos.

- E quando você descobriu isso? Hoje?! – ele perguntou sério. Eu abri a boca pra falar, mas eu não podia mentir! Quer dizer... eu sentia uma atração por ele, mas nunca achei que passava disso! Ele me encarou esperando a resposta que não veio. Ele respirou fundo e se ajoelhou a minha frente. - Eu só quero ter certeza Liv! Só isso! – ele disse tentando se acalmar, mas agora era eu quem estava nervosa.

- Certeza Carlinhos?! A gente nunca tem certeza de nada na vida! – eu disse, e soou como se eu tivesse implorando pra ele se casar comigo agora. Eu tentei respirar fundo pra me acalmar. – Então aquele... beijo.... ontem.... não significou nada?! – eu perguntei. Minha raiva estava começando a se transformar em choro. Ele me encarou confuso. Eu não queria chorar. Homens não agüentam mulheres chorando e sempre acabam inventando qualquer desculpa pra discussão terminar sem realmente chegar a lugar nenhum. Ele respirou fundo e sorriu timidamente por alguns segundos e então me encarou.

- Liv! Eu não podia ter feito aquilo! Não ontem! – ele disse calmamente segurando meu rosto entre suas mãos.

- Você acha que eu sou tão imatura que não sei... diferenciar meus sentimentos?! – eu perguntei o olhando nos olhos. Ele deu um sorriso fraco.

- Não é isso!

- Parece! – eu respondi com ferocidade.

- Acontece que... eu não quero que pareça que eu estou me aproveitando desse seu momento de fragilidade! Eu disse que todo mundo no reino sabe, imagine o que vão dizer...

                - Importa mais a opinião deles do que a minha?! – eu perguntei e mais uma vez parecia que eu estava implorando. Ele riu. – Isso é ridículo! Não sei nem porque estamos discutindo isso! Eu não acho que preciso me casar, nem nada assim!

                - Nem eu! – disse Carlinhos se afastando novamente.

                - E eu só preciso que Jack diga que não quero me casar com os Alcântaras! – eu continuei. Carlinhos riu.

                - Pena que eles não são tão fáceis de se convencer... – ele disse. Eu o encarei curiosa, o que significava isso?! – Parece que os eles vão continuar por aqui, até você se resolver!

                - Sério?! – eu perguntei sem acreditar, Carlinhos sorriu e assentiu com a cabeça.

                - Vai ser difícil de você se livrar deles! – disse Carlinhos rindo. Seria o pior pesadelo do mundo! Eles sempre exigiam que eu me comportasse como uma verdadeira princesa quando eles passavam algum tempo no reino. Era insuportável!

                - Por favor... casa comigo?! – eu perguntei fazendo biquinho, ele sorriu.

                - Se você me perguntar isso daqui algumas semanas, eu prometo pensar! – ele respondeu voltando a ficar bem humorado. – Eu sou um cara difícil! – brincou ele quando Jack voltou.

                - E então? Já se decidiu maninha?! Qual dos almofadinhas vai ser meu cunhado?! – ele perguntou sorrindo.

                - Você sabia minha resposta desde o inicio Jack! – eu disse o encarando, ele deu com os ombros.

                - Mas se eu não te falasse nada, você ficaria uma fera por eu resolver sua vida sem te consultar! – ele disse sorrindo. Eu concordei com a cabeça.

                - Problemas?! – perguntou Carlinhos apontando a porta.

                - Não...quer dizer, não um problema dos grandes! – respondeu Jack sorrindo. – estamos sem um navegador! Só temos tripulação!

                - Pra onde?! – eu perguntei interessada. Jack e Carlinhos se entreolharam preocupados. Eu sorri, adorava deixá-los preocupados.

                - Liv... – começou Jack sério. – Precisamos ir atrás de quem afundou o barco do papai!

- Vocês sabem quem.... Quem afundou o navio do papai? - perguntei eu após alguns instantes.  Como eu não tinha pensado nisso ainda?! Se eles sabiam, o que eu estava fazendo sentada ainda?!

Carlinhos e meu irmão se olharam novamente. Jack ficou muito sério e Carlinhos abaixou a cabeça. Eu esperei pela resposta que parecia estar demorando uma eternidade pra vir.

- Meu irmão! – respondeu Carlinhos envergonhado. Eu comecei a rir. Só podia ser uma piada! Mas nenhum dos dois me acompanhou, apesar de Carlinhos ficar me encarando curioso.

- Willian? - eu perguntei. Simplesmente não podia acreditar. Apesar de roubar, saquear, e fazer muitas coisas contra as leis, Will era incapaz de matar ou afundar um navio com sua tripulação dentro. Eu o conhecia. Will não era um assassino. Ainda mais afundar o barco do meu pai. Meu pai que tantas vezes o ajudou a se livrar de muitas condenações. Eles eram amigos...

- Willian! - respondeu Jack seco. Eu olhei para Carlinhos. Ele também parecia não acreditar naquela história, mas não disse nada. Eu o encarei tentando fazer com que ele me apoiasse, mas ele continuou sem dizer nada. Eu revirei os olhos. Jack não entendia, era impossível ter sido Will, e Carlinhos sabia disso!

                - Não pode ser... - eu disse indo até meu irmão, que tentava se concentrar em alguma coisa escrita em um dos milhões do papeis jogados sobre a mesa. Ele me encarou por cima dos papéis, eu sabia que estava começando a irritá-lo. Mas ele precisava acreditar em mim!

- Liv! - exclamou Jack nervoso - O corpo do papai chegou aqui num bote junto com um marujo mudo, e tanto o papai quanto o pirata tinham a marca do Senhor dos Ventos! –ele disse. Meu estomago foi parar no pé. Isso não fazia o estilo de Will, mas é exatamente o que um pirata faria. Mataria o Rei e depois mandaria o corpo, come se fosse um troféu para ser exibido para os outros. Eu respirei fundo. Carlinhos caminhou lentamente até mim e segurou minha mão.

- Jack...eu conheço o Willian! - eu disse tirando forças não sei da onde. E conhecia Willian até bem demais. Tinha olhos negros, cabelo escuro, preso em um rabo de cavalo, não muito comprido, usava sempre um cavanhaque, tinha braços fortes....

- Liv! Não é porque com você ele foi bonzinho que ele vai ser com todo mundo... não se esqueça que você é uma garota! - disse Jack. Carlinhos ainda não dizia nada, apenas segurou minha mão mais forte. Eu revirei os olhos. Jack não sabia de nada! Will e papai eram amigos! Viviam trocando favores e nunca se atacavam quando se encontravam. Pelo contrário, eles ancoravam e tomavam algumas taças de vinho juntos.

- Princesa, eu sei que isso é difícil de acreditar, mas Willian é um pirata! – Carlinhos disse pela primeira vez.

- Você acredita mesmo nisso?! – eu perguntei o encarando. Ele pensou por alguns segundos e soltou minha mão.

- Infelizmente não tenho outra opção! – ele respondeu com seus olhos presos em mim. – Às vezes o Willian pode ser tão irresponsável e ouvi dizer que ele está precisando de dinheiro!

-Eu vou então! – eu disse num impulso. Carlinhos arregalou seus olhos verdes para mim. E meu irmão ficou cor de beterraba. É claro que era isso que eles estavam preocupados desde o inicio desta conversa. Jack abriu e fechou a boca muitas vezes antes de conseguir finalmente que sua voz saísse.

- Você tá louca? - perguntou ele praticamente cuspindo fogo. – Ele já afundou o barco do papai, e sabe que mandaremos alguém para prendê-lo!

 - Jack! Só quero tirar essa história a limpo! O Willian não tinha por que atacar o papai, o navio dele não tinha ouro, só papéis e contratos e... além do mais, vocês precisam de um navegador! E você sabe muito bem porque papai me levava sempre com ele!

 - Liv! Tire essa idéia da cabeça! - Jack disse ainda nervoso, mas já não cuspia fogo. – Eu sei que você é a melhor navegadora do reino, agora que papai se foi, mas não vou deixar que você faça isso.

- E o que você vai fazer?! – eu perguntei irritada – Me prender?! – eu explodi. Jack sabia que me prender era a única forma de eu não ir agora que eu sabia de tudo.

- Liv! Por favor! – Jack pediu esfregando os olhos. – Seria demais se eu te perdesse!

- Jack! Não vai acontecer nada! – eu disse. Ele fez que não com a cabeça, me encarando. – Então pode mandar me prender! – eu disse me aproximando dele com os pulsos unidos, como se minhas mãos já estivessem algemadas. Jack não disse nada, apenas me encarou muito sério. Carlinhos se aproximou da mesa onde Jack estava, parando ao meu lado.

- Jack! Acho que sua irmã está certa! - disse ele em voz baixa e mais uma vez meu irmão virou uma beterraba. – Ela é a nossa melhor chance como navegadora! Se você não quer que ela vá porque acha que Will irá afundar outro barco....

- Nós só perderemos mais homens e mais um navio! – eu interrompi. Carlinhos estava muito sério. Jack parecia estar travando um duelo com Carlinhos com os olhos.

- Por favor! Sejam mais racionais! – pediu Jack ainda fitando Carlinhos. – Eu não vou enfiar minha irmã em um navio cheio de homens! Ainda mais agora que metade dos parentes diz que ela precisa de um marido...

- Eu me caso com ela se esse é o problema! – Carlinhos disse. Não sei se fui eu ou Jack que ficamos mais surpresos. Eu encarei Carlinhos por alguns segundos. Com certeza eu tinha imaginado que ele havia dito aquilo. Jack parecia ter pensado a mesma coisa, já que nenhum de nós conseguiu dizer uma só palavra. Carlinhos piscou algumas vezes.

 – Jack, a Liv é a melhor! Eu entendo sua preocupação! Você sabe que eu seria a ultima pessoa no mundo a querer arriscar a vida dela!

- Não é o que parece! – disse Jack secamente. Eu ainda tentava entender. Meu sonho ia ficando cada vez mais estranho.

                - E o que você vai fazer? – eu perguntei irritada. – Pegar um navegador meia boca, que não vai saber o que fazer quando Will começar a atirar?! Ou contratar alguém de fora, que nem conhece a região e vai afundar o barco antes mesmo do Will limpar os canhões?!

                - Liv... – começou Jack tentando me acalmar.

                - Ou você esquece essa história de ir atrás do Willian, ou você sabe muito bem que eu sou sua única opção! – eu disse de uma vez. Jack me encarou por alguns instantes. Ele parecia ainda mais cansado. Ele esfregou os olhos mais algumas vezes.

                - E eu sei que se eu esquecer ou não te mandar nessa viagem, eu vou ter que prender você! – ele disse desanimado. – Tudo bem Liv! – ele concordou finalmente.

                - Obrigada! – eu disse o abraçando.

                - Mas você vai ter que me prometer que vai voltar viva! – ele pediu. Eu sorri.

                - Prometo! – eu respondi. Então ele olhou para Carlinhos. Os dois se encararam por alguns segundos.

                - Você tava falando sério?! – Jack perguntou sério. Carlinhos assentiu sem desviar o olhar.

                - Você sabe que sim! Se você quiser mesmo que a Liv vá casada, eu caso!– respondeu Carlinhos ainda sério.

                -Vocês já tinham decidido isso antes.... – Jack começou tentando entender o que estava acontecendo.

                - Não! – respondeu Carlinhos naturalmente.

                - Eu não sei... – disse Jack encarando Carlinhos a espera de alguma explicação extra. – Foi por que vocês se beijaram ontem?!

                - Não! – respondeu Carlinhos novamente.

                - Você contou pra ele?! – eu perguntei encarando Carlinhos que deu com os ombros.

                - Claro que ele me contou! – disse Jack sorrindo. Carlinhos estava muito vermelho, apoiado sobre a mesa de Jack. – Ele é quase meu irmão, o que você esperava?! – Jack ainda ria da nossa reação. 

                - Eu não acredito! – eu disse incrédula. Eu realmente não entendia Carlinhos! Ele estava arrependido de ter me beijado e a primeira coisa que ele fez foi contar pro meu irmão?! Por que?!

                - Foi bom?! – perguntou Jack de repente me encarando.

                - Que?! – eu perguntei achando que não havia entendido direito a pergunta. Carlinhos virou seus olhos verdes para mim, mas ele ainda estava muito vermelho, e eu ainda muito nervosa.

                - Foi bom?! – Jack perguntou. Eu lembrei do beijo e uma onda de eletricidade percorreu minha espinha. Meu nervosismo foi embora. Os dois ainda me encaravam esperando que eu respondesse. Eu tentei não sorrir.

                - Foi! – eu disse encarando meus próprios pés. Jack riu. Eu não quis olhar para Carlinhos, mas imaginei que ele estivesse com aquele sorriso perfeito em seus lábios.

- Então tudo resolvido! – disse Jack encarando Carlinhos. – Eu quero que ela saia daqui pelo menos noiva! Evitaria alguns problemas e falações!

                - Como quiser! –disse Carlinhos encarando Jack. De repente os dois estavam muito sérios. – Sairemos daqui noivos....

                - Não! – exclamou Jack – São vocês quem tem que saber! A Liv sabe quais são as opções... – ele disse. Carlinhos desviou seu olhar pra mim. Nós nos encaramos por alguns instantes. – E você também devem estar ciente da enrascada que você está se metendo! – disse Jack sorrindo para Carlinhos, que continuou sério.

                - Eu sei! – disse Carlinhos ainda me encarando muito sério.

                - Então é só fazer o pedido! – disse Jack. Eu arregalei os olhos pra ele. Pedido? Que pedido? Do que ele estava falando?!. Carlinhos respirou fundo e se ajoelhou. Eu não conseguir me conter e levei as mãos á boca.

                - Princesa Olívia, você aceita se casar comigo?! – Carlinhos perguntou timidamente, segurando minha mão. Meus olhos foram dos olhos verdes dele, para os olhos negros de Jack. Ele estava sorrindo e balançou a cabeça para mim em sinal de encorajamento.

                - Eu já tinha decidido antes de você me perguntar! – eu disse sorrindo pra Carlinhos. Ele sorriu de volta e então olhou pra Jack.

                 - Você sabe que eu sempre torci pra isso acontecer! – disse Jack para Carlinhos, dando uns tapinhas em suas costas quando Carlinhos se levantou.

                - Sei! – exclamou Carlinhos sério. - Eu só não queria que ela aceitasse só porque precisa de mim pra essa viagem! – continuou ele me encarando de repente. Eu sorri.

- Você é muito cabeça dura! – eu exclamei ainda sorrindo.

- Não quero que vocês já tenham a primeira briga! – interrompeu Jack sorrindo. – Precisamos cuidar então do noivado oficial!

- Pode ser junto com a coroação! – eu sugeri – Economiza uma festa, e todas aquelas pessoas chatas....

- É uma boa idéia! – disse Jack sorrindo.

- E além do mais, poderíamos partir logo! – eu disse. Carlinhos revirou os olhos.

- Tudo bem! – disse Jack ainda sorrindo – Eu vou cuidar de tudo! Podem ficar tranqüilos! Só tratem de não brigar! – disse ele nos expulsando de lá, Carlinhos abriu a boca para falar alguma coisa, mas Jack o empurrou pra fora. – Vá curtir a sua noiva! Está tudo sob controle! – continuou Jack batendo a porta nas nossas costas. Carlinhos me encarou no corredor vazio.

- Assim que voltarmos, acabaremos com essa farsa! – disse ele sério, se afastando. Eu corri para alcançá-lo.

- Você ta sendo tão infantil! – eu exclamei o segurando. Ele me encarou por alguns segundos. Mas não disse nada. – Por que você não entende que eu também quero que a gente fique junto! De verdade!

- Liv... é complicado!

- Você ta complicando! – eu exclamei – Fazem, sei lá 3 anos que você espera por mim...

- 6 anos! – ele corrigiu me encarando. Eu o encarei confusa.

- Desde que a gente se conheceu?! – eu perguntei, ele assentiu.

- Você tinha 14 e eu 16... foi quando eu vim morar aqui, quando eu comecei a treinar para entrar no exercito...

- Que seja! Eu sinto muito se eu só me dei conta dos meus sentimentos, agora... com tudo isso que ta acontecendo!

- Isso que me preocupa! E se você não sentir isso de verdade?! – ele perguntou me encarando. Eu o soltei e pensei por alguns segundos.

- Tá! Antes do meu pai morrer, eu... acho que já sabia! Na verdade, eu achava que era idiotice, eu te achava bonito e gostava de estar perto de você! Eu só não tinha me dado conta que era tão grande isso que eu sentia por você.... – eu disse evitando seus olhos.

- Você ta falando sério?! – ele perguntou me encarando desconfiado. Eu revirei os olhos. Era patético isso! Eu estava praticamente me jogando em cima dele, e ele não acreditava. Talvez ele é quem não tivesse certeza dos sentimentos e eu não ia insistir. A morte do meu pai já era ruim demais, e ainda ser rejeitada... seria muito mais do que eu podia agüentar. Eu comecei a me afastar, sem responder sua pergunta, mas ele segurou meu braço e me puxou. Foi como um imã, nossos lábios se juntaram quase no mesmo segundo. E ele me puxou mais perto.

- Me desculpa! – ele disse ainda me segurando. – É bom demais pra eu acreditar! – ele continuou.

- Mas é verdade! – eu disse o olhando nos olhos.

Então, já estava decidido. Eu e Carlinhos ficaríamos noivos oficialmente, no dia da coroação de Jack, e partiríamos no dia seguinte. Ainda era um pouco cedo pro casamento, e Jack concordou que assim já estava bom. Carlinhos estava cuidando do navio e a tripulação, enquanto eu traçava nossas rotas. Todos os lugares que Will costumava freqüentar, e os lugares onde ele havia sido visto. 

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